O experimentalismo cromogénico dos Patto, numa época de profundas transformações na Arte ou como-a-arte-pode-ser-de-todos-e-ainda-assim-ser-sofisticada.
A década de sessenta e a sua irreverência plástica foram obreiras de algumas das maiores revoluções na arte contemporânea. Viu eclodir uma nova imagética cujo conceito básico era o da cultura urbana e popular de massas como cultura vernácula partilhada por todos, independentemente das técnicas profissionais. Os bens de consumo de produção em massa eram aceites como materiais da nova arte e proposta uma nova estética de consumo imediato. Cronologicamente surgiu depois e como reacção ao Expressionismo Abstracto e numa resposta livre às noções dadaístas. Também na música estas manifestações artísticas se fizeram notar. Andy Warhol e a sua Factory impulsionaram uma nova franja vanguardista nova-iorquina que teve como expoente máximo os refractários Velvet Underground.
Mas dando um salto cronológico considerável, e feito o intróito, quero falar-vos de uma banda que não se fazendo notar mas cuidando subtilmente em se deixar distinguir, fez a sua aparição na cena londrina no dealbar na década de setenta.
Nascidos dos fragmentados Timebox, os Patto apresentaram o seu álbum de estreia em Dezembro de 1970 pela mão da disruptiva Vertigo. Apresentando um cinetismo dinâmico-construtivo, a formação inglesa aliava a irreverência e o virtuosismo da construção jazzística a um certo desenvolvimento minimalista, reclamado pela «tribo» do rock’n’roll.
O apelo elitista de bandas como os Patto, os Soft Machine ou outras bandas de fusão torna-se compreensível, assim que compreendermos que, apesar da sua estocada populista, o estilo se orientou em última instância para algo ambicionado por Duchamp: que a arte fosse inteligente e sofisticada. Assim, apesar de o tema pop ser banal, em geral, os seus instrumentos estéticos não o foram. Na tentativa de encontrar normalidade no acidental, os Patto surgem, então, como «juízes reflectores» de uma nova vaga emergente da cena de Canterbury.
Mike Patto empresta o seu apelido ao álbum, mas não se pense que este é um álbum autoral.
Com efeito, o quarteto inglês apresenta uma sólida força motriz e essa solidez é latente nos arranjos harmónico-melódicos de todo o álbum. O virtuoso John Halsey aos comandos da sua Gretsch, suportado ritmicamente pelo baixo de Clive Griffiths, pautam o ritmo e são o sustentáculo que abre espaço às efusivas elucubrações de Ollie Halsall.
O registo apresenta um punhado de canções que nada fariam forjar de mais embriagante. “The Man”, “Hold Me Back”, “Red Glow” ou “Money Bag” são o exemplo de como a banda, fazendo jus aos seus grilhões, se lança numa espécie de gládio espiritual rumo à eternidade.
A pegada artística da banda é também ilustrada pela capa desenvolvida pelo artista gráfico Tony Benyon, que se havia inspirado na obra seminal de Edvard Munch, o «Grito», emprestando ao disco a aura que ainda hoje detém.