
Depois da noite de abertura do festival Vodafone Paredes de Coura, é agora chegado o festival propriamente dito, com a abertura dos palcos Vodafone FM (já ontem aquecido pelo DJ set de Cut Copy) e Jazz na Relva. Um dia com uma programação cheia de nomes fortes como Thurston Moore, Mac DeMarco ou Franz Ferdinand.
Às 19h40 começou a ouvir-se o blues “sujo” de Seasick Steve. Com guitarras feitas de coisas que normalmente chamaríamos lixo e, muitas delas, com cordas a menos, o artista, acompanhado apenas por um baterista, trouxe à Praia Fluvial do Taboão temas dos seus mais recentes trabalhos. Com uma adesão do público superior à espectada (o próprio Steve exclamou “Eu nem sabia que vocês me conheciam cá!”), o concerto ficou marcado pelo chamamento ao palco de uma rapariga, a quem o artista cantou uma música de amor. E foi entre estas músicas carregadas de américa e elogios ao espaço do festival (o mais bonito entre todos aqueles a que foi este verão) que se desenrolou o fim de tarde.
O início da noite ficou a cargo do ex-Sonic Youth Thurston Moore. Iniciando o concerto com uma música de 15 minutos, à segunda mostrou que o seu passado barulhento (com o qual contrasta o seu último Demolished Thoughts) não se perdeu. No final da segunda música, apresentou a banda, que conta com Debbie Googe (My Bloody Valentine) no baixo, James Sedwards na guitarra e Steve Shelley (também ex-Sonic Youth), e disse, em relação ao seu próximo álbum (que sai dia 20 de outubro): “Se gostam de discos, compre-no”. Um concerto bom, já àquilo a que nos vem habituando, de resto.
Mais tarde, pelas 21h20, casa praticamente cheia para a actuação do músico canadiano Mac DeMarco. No seu primeiro concerto por terras lusitanas, não são de louvar as condições sonoras em que a primeira metade do mesmo se desenrolou. No entanto, estes problemas (que acabaram por ser resolvidos, para alívio de todos) não impediram que a sua atuação fosse extremamente animada, uma grande festa e sempre cheia de surpresas. Entre temas como “Salad Days”, “Let Her Go” ou “Ode to Viceroy”, passou a primeira metade deste concerto, na qual o artista mandou os parabéns à sua mãe, e onde foi apresentado o novo guitarrista, Andy. Depois de uma música para os rapazes (“I’m a Man”), outra para as raparigas (“Let My Baby Stay”), que foi cantada de batom no lábios, e ainda uma homenagem a Jah, com a cover de “Jammin’”, de Bob Marley. Nesta, foi chamada para o palco uma fã do artista jamaicano para cantar lado a lado com Mac (e, também, partilhar com ele o seu whisky). O concerto seguiu com “Freaking Out the Neighbourhood” e “Chamber of Reflection”. Para acabar, a balada “Still Together”; aqui DeMarco pediu para que fizessem aquela contar como a se fosse a sua última vez no país. Talvez na consequência dessa incitação, uns quantos corajosos saltaram as grades e foram convidados a subir ao palco. Depois do habitual stage diving, o artista voltou ao palco e despediu-se do público, que certamente terá saído de coração cheio do Palco Vodafone.
E foi assim que muitos seguiram para o Palco Vodafone FM para ver Thee Oh Sees, banda californiana fruto do génio de John Dwyer. Também como já era espectável, foi grande a agitação que os roqueiros americanos trouxeram à Praia Fluvial do Taboão, de tal modo que até houve uma invasão de palco logo no início que, com aparato, foi resolvida. Muito boa disposição, mosh e crowdsurfing constantes (e em grandes proporções, é claro) marcaram este concerto, onde se ouviram sucessos como “Tidal Wave”, “I Come from the Mountain” ou “Carrion Crawler” e foram apresentadas músicas do último álbum Drop. Uma bonita celebração feita de um garage rock psicadélico, que marcou um dos concertos mais fortes do festival, até agora.
Na sua primeira passagem por Portugal, os escoceses CHVRCHES trouxeram ao festival pouco menos de uma hora de electropop, recheado de sintetizadores. O som revelou estar muito melhor que no concerto anterior; a voz de Lauren Mayberry soa-nos limpa, assim como os instrumentais. Com apenas um disco editado, a banda parece ter reunido um considerável número de fãs, e consegue contagiar os demais a saltarem ou a apenas balouçarem-se ao som da música. Num público que parecia estar à espera dos conterrâneos Franz Ferdinand (algo que se reflectiu na apatia de alguns), foi, no entanto, difícil resistir ao furacão CHVRCHES.
Nos primeiros segundos do concerto, tornou-se claro quem é que a maioria do público veio ver. Fazendo coro com Alex Kapranos e companhia, o púbico de Franz Ferdinand saltou e fez crowdsurf (e ainda não tinha passado a marca dos dois minutos). Com vários álbuns na bagagem, e fazendo uma passagem por mais ou menos homogénea por todos eles, a banda moveu a enorme multidão que se juntara ao longo da noite para os ver. Apesar de uma interacção mais reduzida com o público que nos concertos anteriores, os escoceses apresentaram um concerto rico no rock ao qual nos habituámos no início dos anos 2000, atingindo os pontos altos em “Take Me Out” e “This Fire”. O público delirou: verificaram-se moshpits a toda a largura do palco, muitas pessoas a fazer crowdsurf (tantas que os seguranças até tiveram dificuldade em tirá-las em segurança da plateia), coros de centenas de pessoas a entoar as conhecidas letras, e até pirotecnia, proveniente do entusiasmadíssimo público. Apesar de várias passagens pelo país, os Franz Ferdinand ainda conseguem levar multidões nacionais ao rubro.
Este foi portanto um dia cheio de concertos muito bons, como já era de esperar neste Vodafone Paredes de Coura, que parece ter um efeito nas bandas que as faz dar o seu melhor. Amanhã é dia de rock duro, com os portugueses Killimanjaro e Linda Martini em destaque no palco principal.
Texto: Luís Marujo e Beatriz Pinto
(Fotos gentilmente cedidas por Hugo Lima)