
Parecendo que não, já estamos no penúltimo dia deste Vodafone Paredes de Coura. Hoje há em palco muitos nomes fortes do rock cheio de distorção, como Black Lips, Linda Martini ou Perfect Pussy. Os cabeças de cartaz são, no entanto, os australianos Cut Copy, que prometem transformar o anfiteatro natural da Praia Fluvial o Taboão numa autêntica pista de dança.
Às 18h30, entraram em palco os portugueses Killimanjaro, que fizeram estremecer a encosta junto ao rio Coura com os seus riffs pesados, a fazer lembrar aquilo que seria o filho, fruto de uma noite de loucura, de Led Zeppelin e Black Sabbath. Sempre a praticar o seu rock sujo e potente, mostraram a todos as suas melodias vindas diretas dos anos 70 para os ouvidos dos presentes. Conquistando aos poucos a multidão que se reunia em frente ao palco Vodafone, o trio português deu um concerto forte e energético, bom para animar o público na tarde de sexta-feira.
Cerca de meia hora depois do fim deste concerto, era a vez dos Linda Martini tomarem conta do palco principal, no final da tarde. Foram tocando vários temas de toda a sua carreira, começando com “Queluz Menos Luz” de Casa Ocupada. Ao fim da quarta música, perante alguma apatia do público (tirando alguns casos de headbang), Hélio Morais, carismático baterista da banda lisboeta, decidiu provocá-lo dizendo: “dancem, saltem, façam stage diving, façam alguma coisa parecida com amor. Nós estamos a curtir bué fazer amor aqui em cima, era bom se também fizessem. Já vos vimos aí do caralho.”. A multidão reagiu bem à incitação e começou a ver-se algum crowdsurf, mosh, até se viram alguns a tocar uma guitarra imaginária e, depois de “Panteão”, o próprio Hélio disse: “Está mais bonito. É que nós já fomos muito felizes aqui, ficamos com as expectativas muito altas e queremos sempre que seja igual.”. Seguiu o concerto, passando por “Estuque”, “Volta”, “Juventude Sónica” e “Ratos”. No entanto, antes de tocarem esta música, o baterista voltou a falar, dizendo, com um tom algo “revolucionário”: “Temos visto os stencils dos ratos que estão espalhados por Paredes de Coura. Os ratos não nos vão devorar, pessoal. Nós somos bué mais que eles. Só se nós quisermos é que os cabrões dos ratos nos devoram.”. Depois desta afirmação (claramente de crítica à actual situação política) e até ao final seguiu-se um grande aumento do número de crowdsurfers e pessoas no moshpit. Seguiu-se então “Lição de Voo nº 1” e, a acabar, “Cem Metros Sereia” na qual umas vinte pessoas subiram ao palco para cantar com a banda o refrão desta música, terminando desta bela forma o concerto do quarteto.
Mal depois destes acabarem, já se ouvia no palco Vodafone FM a noise pop dos ingleses Yuck. Embora os seus fãs a início fossem os únicos a saltar e a abanar a cabeça ao som das suas músicas, o público foi sendo conquistado pela banda e acabou por se render às suas melodias. A banda, cujo som faz lembrar uma mistura homogénea de My Bloody Valentine, Sonic Youth e Pavement, conseguiu ainda arranjar espaço no alinhamento para uma cover muitíssimo bem conseguida da música “Age of Consent” do clássico Power, Corruption & Lies dos britânicos New Order.
No entanto, ninguém conseguiu (e talvez por algum tempo não conseguirá) igualar os Perfect Pussy na arte de fazer barulho. Parece que não, mas é difícil fazer soar bem barulho. Entre muitas paredes de som e feedback, desenrolou-se o punk violento e rápido dos norte-americanos, feito de uma guitarra e um baixo muito distorcidos e uma bateria muito agressiva e, claro, da voz furiosa de Meredith Graves, que canta de uma forma extremamente catártica. O seu som tão abrasivo até afastou alguns deste concerto, que, de tão frenético que foi, durou apenas meia hora. Apesar disso, este curto espaço de tempo serviu para gastar as energias de qualquer um que se atrevesse e entrar no mosh pit gigante instalado à frente do palco. Um concerto, portanto, feito de força bruta, que marcou o início da noite deste terceiro dia do Vodafone Paredes de Coura.
Então, às 23h15, chegou um dos momentos mais aguardados da noite (e do festival, também): o concerto dos Black Lips. Feitos de uma energia incrível, a banda de Atlanta deu o melhor concerto da noite; ninguém aí presente parou de saltar um segundo que fosse e Cole Alexander, Jared Swilley e Jack Hines estiveram em permanente contacto com o público. O resultado foi 1h10 muito animada, com muitos crowdsurfers (eram tantos que os seguranças não tinham mãos a medir e tiveram de ser advertidos pela banda: “Tenham calma com as pessoas, ajudem-nas, não as aleijem”) e um moshpit da largura do palco Vodafone. Algures a meio até começaram a ser atirados, do palco, rolos de papel higiénico para a multidão presente. No final, Cole Alexander agradeceu à organização (que já os tratara muito bem no Primavera Sound deste ano) e fez stage dive, saindo depois com os restantes elementos da banda, agradecendo imenso ao público pela magnífica noite.
Pouco tempo depois, entravam em palco os australianos Cut Copy. Com um disco recentemente editado, a banda abriu o concerto com “We Are Explorers”, de Free Your Mind, lançado em novembro passado. Na plateia, o público rendia-se ao electropop dançável dos australianos, comandados por Dan Whitford, mentor do projecto e DJ. Passando por temas dos quatro álbuns, os Cut Copy apresentaram “Free Your Mind”, single do homónimo disco, que nos faz recordar os Primal Scream. A meio do concerto, Whitford perguntou à audiência se gostavam de dançar, ao qual recebeu uma entusiástica resposta da multidão que se juntara para ver os cabeças d cartaz da noite. Cumprindo as expectativas, a banda conseguiu transformar o recinto numa pista de dança de discoteca, cujo ponto alto foi o último tema, “Lights & Music”. O público delirou, garantindo aos Cut Copy uma vitória na Praia Fluvial do Taboão.
Texto: Luís Marujo e Beatriz Pinto
Fotos gentilmente cedidas por Hugo Lima