Foto gentilmente cedida por Vera Marmelo
Encafuados na caverna esconsa da ZDB, no meio de uma nuvem espessa de haxixe e escuridão, assistimos à estreia ao vivo do novo disco – ainda não gravado – de Tó Trips: Guitarra Makaka: Danças a um Deus Desconhecido. Trips não é homem de muitas falas. De calças rasgadas nos joelhos, camisa africana com os últimos botões abertos e o cabelo grisalho em eterno desalinho, senta-se no tosco banco de madeira e sem mais delongas ataca a sua guitarra de caixa metálica (o chamado dobro).
Os dedos esfolam-se nas cordas de aço, forjando aquele som sujo e cru, deliciosamente primitivo. A afinação é diferente, uma herança das experimentações de Trips com Adriana Sá em Timespine. É que depressa reparou que com a nova relação entre as cordas do seu dobro os dedos fogem-lhe para as músicas tribais africanas. Agora percebemos porque é que o guitarrista dos Dead Combo convidou Bubacar Djabaté para a primeira parte e encerramento do concerto: o xilofone esquisito que o guineense habilmente toca (ou balafon, se quisermos ser rigorosos) tem tudo a ver com as novas experiências de Trips.
O músico lisboeta está agora longe das preocupações melódicas e harmónicas do seu primeiro disco – Guitarra 66. O que agora lhe interessa explorar é outra coisa: a extraordinária riqueza rítmica da música africana. Menos tons, mais ritmos – resumiríamos numa fórmula. O seu pé esquerdo bate no chão, como se fosse um djambé. Os dedos escorregam trôpegos – corda acima, corda abaixo – imitando coros tribais. É incrível a quantidade de ritmos diferentes que saem daqueles dedos, macacos saltando de galho em galho, a explicação afinal para o nome do novo álbum.
No final, vemos uma extensa camada de poeira aos pés de Tó Trips. A terra vermelha da África profunda levantada pelas cordas de uma guitarra macaca.