Após um gigante 2014 – com o lançamento e sucesso do álbum de estreia 8 e a edição de um EP homónimo apenas disponível em cassete – Emanuel Botelho, Filipe Azevedo, Hugo Alfredo Gomes e Manuel Justo, hoje conhecidos por Sensible Soccers, subiram ao palco do Teatro Maria Matos, na passada quinta-feira, dia 28, para algo um pouco diferente daquilo a que nos têm habituado.
Esta sede de mudança até um nome tinha: Paulo. E Paulo surgiu precisamente da vontade de aprerock cru e enérgico que dá vontade de bater o pé. Estava na hora de explorar a vertente ambiental rica nos álbuns e em empobrecida nos concertos, segundo a própria banda. Ao desafio de criar um espetáculo intimista, subversivo, discreto e fortemente visual. A artista Laetita Morais fora a convidada para dar imagem ao concerto.
À hora marcada, surgiram em palco os quatro vultos costumeiros e um quinto vulto feminino que se colocou prontamente atrás do computador. Começou o espetáculo. Laetita Morais encarregou-se de, ao sabor dos sintetizadores pesados, lentos e vagarosos, projetar atrás dos músicos filmagens breves e trémulas de um imaginário frio e melancólico (tal como a música em si) – rochedos despidos, praias desertas, gaivotas em voo. As batidas certeiras e brandas dos sintetizadores arrastaram-se durante cinco, dez, quinze, vinte minutos: ao olhar em redor, seria possível verificar que, enquanto alguns membros do público se viam completamente imersos na cantiga infinita e nas gaivotas que sobrevoavam lentamente o projetor, outros bocejavam e coçavam a cabeça – apercebendo-se que, de facto, isto seria um concerto diferente dos anteriores da banda. Para todos os efeitos, Paulo estava a cumprir a sua missão.
Ao fim de meia hora, a melodia começou finalmente a mudar e a tomar contornos de algo menos pesaroso. A batida duplicou e assumiu-se como um monstro em palco. Os vultos não abandonavam os sintetizadores assim como Laetita não abandonava o computador, projetando carros reluzentes e vacas no prado. Os olhos do público estavam agora vidrados no palco, num misto de incredibilidade, confusão e transcendência. O ambiente era pesado, ensurdecedor, desconfortável. A batida devorava-se a si mesma e fazia tremer o chão da sala.
O melhor chegou no fim. A batida anterior ia morrendo aos poucos, e à medida que se desvanecia, a guitarra que dormia em palco foi acordada por Filipe Azevedo. Empunhou-a com destreza e preparou-se para a prometida explosão final. E que explosão foi. As projeções tomavam formas abstratas e esponjosas e contorciam-se furiosamente em tons de azul ao som da música, obrigando o público a semicerrar os olhos. A guitarra rugia e berrava ao ritmo galopante dos sintetizadores fortíssimos que irrompiam loucos pela sala inteira. E, assim que o concerto se tornava algo perto do espetacular, os cinco vultos cessaram-no e abandonaram o palco sem palavra.
E assim travámos conhecimento com Paulo: complexo, delirante, em parte cansativo, em parte entusiasmante, confuso, possivelmente incompreensível para todos menos quem o concebeu. Como qualquer criança.
(Fotos gentilmente cedidas por Alípio Padilha)




































