
Os Black Bombaim são um trio de Barcelos de rock psicadélico: o Tojó toca baixo e faz muros, o Senra toca bateria e faz calçado, e o Ricardo toca guitarra e serve cafés e também faz grandes sandes presunto. Quem o diz é o road manager deles. São um grupo instrumental – a única voz que se ouve num dos temas é de Adolfo, dos Mão Morta – e gostam de músicas longas. Estiveram em digressão pela Europa e conseguiram marcar lugar num dos festivais mais importantes de rock, o RoadBurn, na Holanda. A pouco mais de uma semana de actuarem com os La La La Ressonance no Festival Amplifest, no Porto, os BB vieram sozinhos ao Music Box estrear a rubrica Rock Monster, juntamente com os Equations, no passado dia 10. Numa noite quente e cheia, o grupo tirou uma pausa para ter um tête-à-tête com o Altamont numa esplanada do Cais do Sodré.
Quem são os Black Bombaim? Já agora, é Black Bombaim ou «Bombaím»?
Tojó: O nome é assim um bocado esquisito, mas não sei. É Bombaim, porque vem de uma letra dos Mão Morta e ele diz Bombaim. Ele é que sabe.
Quem são os Black Bombaim, então?
Tojó: Somos três jovens de Barcelos, homens do campo, que se juntaram para fazer música, porque não nos apetecia muito jogar futebol. Então as tardes passávamos a fazer músicas.
O vosso primeiro trabalho saiu em 2009. Em que é que se vê a evolução dos BB ao longo destes anos?
Tojó: A evolução no som foi um bocado proporcional à nossa evolução como músicos. Nesse primeiro álbum ainda estávamos a tentar procurar aquilo que queríamos fazer, estávamos a explorar melhor o instrumento, porque não tínhamos voz e o instrumento tinha de ser o mais importante. Começámos a explorar mais e como ouvíamos muito rock e música psicadélica, enveredámos por aí. A evolução foi essa, foi a maturidade.
Senra: O primeiro EP tem nove músicas.
Tojó: Eram músicas curtas, ainda não fazíamos as músicas longas como fazemos agora.
Então porque é que escolheram tocar músicas tão longas?
Senra: Influências…
Tojó: E fazíamos isso na sala de ensaios. Ficávamos a tocar bastante tempo, sem ter de pensar em como é que vamos acabar esta música e continuávamos a tocar e decidimos “que se lixe! Vamos levar isto para o palco”.
E como surgiu esta nova ideia da colaboração com os La La La Ressonance?
Tojó: Isto partiu das duas editoras, da Pad e da Lovers and Lollypops. Já que tanto eles como nós estamos habituados a fazer colaborações, os chefões acharam que seria engraçado juntar duas bandas que à primeira vista não têm nada a ver, mas que no fundo até têm. Depois não tínhamos nada planeado e fomos para a sala de ensaios, e em 6 ensaios fizemos aquilo para levar para o Milhões. A ideia seria gravar um disco e isso tudo, mas o objectivo principal era tocar no Milhões e apresentar uma coisa que ninguém estivesse à espera.
Então a ideia do disco veio depois?
Senra: Foi o curso normal das conversas e do trabalho das duas bandas.
Tojó: O concerto correu bem, então dissemos “vamos fazer isto, vamos gravar”. Tentar fazer trocos. Não, estava a brincar, não dá…
Ricardo: É tanta gente!
Tojó: Dá para uma côdea.
Ricardo: Um maço de tabaco e uma cervejinha a cada um.
O que se pode esperar do disco que vão gravar em conjunto?
Tojó: Já gravámos. Tentámos “copiar” os Pink Floyd no Live At Pompeii. O estúdio era numa quinta enorme, então não gravámos mesmo num estúdio; fomos a uma espécie de floresta que havia lá, pusemos microfones em todos os instrumentos e tocámos ao ar livre e filmámos tudo. É um concerto do início ao fim.
Há diferenças notórias em relação ao que tinham feito antes?
Tojó: Claro que quando interages com outros músicos despertas coisas novas em ti. É bastante diferente, mas há ali um ponto de união. Aliás, até há uma música com duas músicas, uma deles e outra nossa tocadas em conjunto com uma interpretação diferente.
E como é que vocês definem o vosso género musical?
Tojó: Rock psicadélico. É a coisa mais fácil. Quando tocas uma coisa e não sabes dizer o que é, dizes que é rock psicadélico. Se estás a tocar uma violinha e não sabes bem o que estás a fazer, ah… É violinha psicadélica.
E boas bandas nacionais dentro deste estilo?
Tojó: Gala Drop, Sensible Soccers, Equations… Kilimanjaro.
Mas vocês foram os escolhidos para estrear esta rubrica Rock Monster do Music Box. Qual é a sensação de estar por aqui?
Tojó: É bom estarem a apostar no rock, podiam estar a apostar noutra coisa qualquer, tipo electrónica. Mas apostaram no rock e escolheram-nos a nós, está fixe.
E este ano foi um ano de sucesso para vocês, que andaram aí a rodar os festivais todos. Qual foi o festival nacional em que tiveram mais prazer de tocar?
Tojó: Todos temos de dizer Milhões, porque somos “obrigados”. Contratualmente somos obrigados… Mas é o melhor.
Então e o Roadburn?
Tojó: Foi fixe. Também foi fixe a directa que fizemos a ir para lá. Mas é óptimo. Quando começámos a banda e quando decidimos fazer este tipo de som, tocar no Roadburn era tipo o sonho e é o ex libris deste estilo de música.
E correu bem o concerto?
Acho que sim. Foi as duas e meia da tarde… Mas estava cheio!
Uma vez atingido o objectivo, qual é a próxima meta?
Tojó: É ir lá outra vez! Não, mas explorar mais a Europa, já fizemos isso, mas fazer mais e melhor. Portugal é fixe e é daqui que somos e o público é brutal, mas não há assim tantos sítios, acabas por te repetir. Imagina, lançámos agora o terceiro ou quarto disco e vamos repetir os mesmos sítios.
Senra: E dá mais trabalho. Tens de fazer mais músicas aqui. Lá fora consegues tocar o mesmo.
Tojo: Olha o preguiçoso a falar.
E que diferenças é que sentem em relação ao público nacional e ao público lá fora?
Tojó: Lá fora compram discos, compram bué discos! Mas se calhar o pessoal aqui é mais efusivo, demonstra mais e se calhar conhece melhor também. Principalmente quando vais mais para norte e centro da Europa, nota-se que o pessoal está mais atento ao concerto, não está a curtir nem a fazer grande espalhafato, mas curte na mesma, e vai e compra merchandise e apoia a banda, segue-a para sempre.
Vem aí o vosso segundo Amplifest. Como vai ser lá voltar?
Tojó: Vai ser fixe, porque agora vamos lá tocar com os La La La Ressonance, portanto vai ser diferente. É um público bué de fixe.
Ricardo: É um mini Roadburn.
Tojó: Essa coisa que eu estava a falar do publico estrangeiro, lá é um bocado parecido.
Senra: O pessoal não vai para dançar e beber copos. Vai para ouvir música, ver os concertos. Parecem ser mais sérios.
E o que estão mais ansiosos para lá ver?
Senra: Chelsea Wolfe e Russian Circles.
Tojó: Mas Russian Circles já tocámos com eles no Porto, em 2010. Abrimos para eles, éramos a banda surpresa.
(Fotos: Hugo Amaral)