Fui ao Lux ver o concerto de Chet Faker, não só mas também, para tentar perceber o hype que se gerou à volta dele. Jovem barbudo da Austrália, não tem nenhum disco editado (só um EP, Thinking In Textures, lançado em 2012 e premiado pela Rolling Stone Australia) e esgotou o Lux, em poucas semanas. Pelo que fui ouvindo nos últimos dias, e sem conhecer muito da obra dele, fui aprendendo que Chet Faker não se chama assim, mas já havia na Autrália um artista que usava o nome Nicholas James Murphy. Aprendi que ele começou a revelar a sua música pelas redes sociais e que em menos de nada alguns dos vídeos tiveram mais de 1 milhão de visualizações. E aprendi que graças a Chet Faker, alguns milhares de pessoas ficaram a saber de uma banda chamada BlackStreet, que em 1996 gravou “No Diggity” que muita gente conhece mas pouca gente sabia quem tocava.
Então fui e acho que percebi de onde veio este súbito e generalizado interesse. Bon Iver e Fat Freddy’s Drop tiveram um filho, chamaram-lhe Chet Faker e os padrinhos são James Blake e B Fachada. E, com estes poderes combinados, temos um Lux esgotado com gente que sabe de cor e canta os refrões, que grita e aplaude efusivamente. Já vi, naquele mesmo palco, bandas com 10 discos editados e metade do público e do entusiasmo.
Chet Faker tem apenas um EP lançado e faz também algumas versões. Veio a Lisboa dar um concerto com 9 canções, geometricamente esticadas para que o concerto não fosse apenas um showcase de livraria.
E não só ele próprio ficou surpreendido por ver uma sala esgotada e ávida por ouvir a sua música, acho que também surpreendeu alguns entusiastas fãs, que provavelmente não sabiam que ele faz música para além do hype e que deve perdurar depois do Verão. Tem substância, tem as referências certas, dos indies aos mestres do teclismo e da soul, e está acompanhado por excelentes músicos, que o ajudam a perder-se, amiúde, em devaneios espaciais. Em palco, apenas quatro músicos – virtuosos baterista, baixista, guitarra e Chet Faker na voz e no órgão. O seu órgão mágico, através do qual hipnotiza e cativa o público. Uma vez captada a atenção, ele leva-nos pelos caminhos do R&B moderno, com um pé em Londres outro em Melbourne, reconfortando-nos com uma voz forte mas serena.
Em pouco mais de uma hora de concerto, tocou tudo o que tinha (7 músicas seguidas e outras 2 num encore) e deixou toda a gente satisfeita e insatisfeita. Quem pagou bilhete para ver este concerto deu o seu dinheiro por bem empregue, mas soube a pouco.
Se é assim com apenas um EP, imagine-se o que será quando tiver um longa duração. Festivais de Verão, estão a ouvir?
Setlist:
Archangel
Terms and Conditions
Solo Sunshine
Love & Feeling
Everything I Wanted
Melt
I’m Into You
Cigarettes & Chocolate
No Diggity