
Após um primeiro dia com falta registada na caderneta, estamos aqui para reportar aquilo que foi o segundo dia do Optimus Primavera Sound, na cidade invicta. Relatos do primeiro dia deram-nos conta de um grande concerto de Nick Cave com os seus Bad Seeds. Enérgico, rockeiro, com muito salto no ar, terá sido assim o concerto do australiano, precedido dos Breeders, que vieram tocar o seu álbum mais importante da carreira “Last Splash”.
Mas não é de relatos que vimos aqui falar, é mesmo do que testemunhámos ao vivo, em directo e a cores. O segundo dia do Primavera começou (para nós) com um concerto de Neko Case. Uma presença típica de princípio/final de tarde, tranquilo, sem grandes euforias, próprio de uma banda que nada de novo tem a oferecer mas que não ofende os ouvidos. Aqui batem as 20h e uma escolha pela frente: Daniel Johnston no palco ATP ou Local Natives no palco principal? Poderia ser uma escolha fácil, os Local Natives acabaram de lançar “Hummingbird” e a curiosidade de os ver ao vivo era grande, mas entre uma banda que está a caminhar para o seu auge e um velho senhor a quem foi diagnosticada a bipolaridade e a esquizófrenia a escolha caiu para este último. Não por esta curiosidade macabra mas porque Johnston já não é de facto novo e as probabilidades de o ver ao vivo vão diminuindo rápido. E ainda porque Johnston foi um ídolo de Cobain e tinha “Casper, the friendly ghost” em carteira. Infelizmente não a tocou mas deu um óptimo concerto. A sua voz é certo, já está bem longe do que foi. O senhor treme também por todos os lados. Mas as músicas são óptimas, os músicos que o acompanham também e foi um regalo sentir a musicalidade de um quase-génio ali à nossa frente, mesmo que a pena fosse um sentimento a passar pelo ar.
Assim que acabou ainda deu tempo para ver as duas últimas canções de Local Natives e perceber que deram um bom concerto, para uma plateia cheia e entusiasta. Às 22h20 foi hora de conhecer Melody’s Echo Chamber, a melhor e mais fofinha surpresa da noite. Confesso que ainda não tinha tido oportunidade de conhecer o seu trabalho, mas fiquei totalmente convencido. A colaboração de Kevin Parker, dos Tame Impala, é bem evidente. Pode-se dizer que Melody’s Echo Chamber é uma versão feminina afrancesada dos Tame Impala, o que não é muito longe da verdade, mas isso é um elogio extraordinário! Para já porque Tame Impala é absolutamente grandioso, do melhor rock psicadélico da actualidade, e depois porque Melody Prochet, a francesa que é a alma do projecto, transmite um toque interessantíssimo a este tipo de som. Muito bom concerto, excelente presença em palco e público completamente rendido. Como não ficar rendido?
Infelizmente não deu para ficar até ao fim porque às 22h50 subiam ao palco Optimus os Grizzly Bear. E já com uma ansiedade Blurólica no estômago (apesar de estes só tocarem às 1h25). Ora os Grizzly Bear estiveram talvez um pouco àquem da expectativa. Há que dizer que é sempre alta porque os nova-iorquinos habituaram-nos mal com os seus excelentes 4 álbuns, mas apesar de uma prestação sem mácula, faltou ânimo. E ânimo é coisa importante em festival. Mas reforçamos que foi um concerto sem mácula, muito bom técnicamente, a roçar mesmo o perfeito.
Mas falamos no ânimo porquê? Porque a seguir se apresentaram os gigantes Blur. Apesar da enorme expectativa poderia pensar-se que se reuniram para dar uns concertos a contra-gosto, fazer algum dinheiro e homenagear os fãs. Mas não. Os Blur mostraram um enorme prazer em estar juntos de novo e esse tal ânimo aqueceu o coração de todo o público. Mas antes ainda uma pequena nota para o concerto anterior dos Meat Puppets no palco ATP: é rock! Apresentaram-se muito fortes, muito consistentes e deu tempo para ouvir “Plateau”, canção imortalizada pelos Nirvana no seu concerto unplugged para a MTV. Muito reconfortante para recuperar forças num dia que começou demasiado cedo.
Mas voltemos então aos Blur, a razão maior da vinda a este festival. Apesar do cartaz ser forte não há como fugir, os Blur são uma das bandas mais importantes de uma geração. Tocaram uma hora e meia em formato best of, que era o que se esperava. Começaram com “Girls & Boys” e acabaram explosivamente com “Song 2”. Pelo meio tocaram “Popscene”, “Beetlebum”, “Out of Time”, “Caramel” e “Parklife”. Poderia dizer-se que com “Coffee & TV”, “Country House” e “The Universal” rebentaram com a escala, o que não é mentira nenhuma, mas terá sido “Tender” que tocou ainda mais no público que por diversas vezes a cantou a solo a pedir o regresso da banda ao palco, antes do encore. Foi de facto um concerto magnífico! Ver Allbarn, esse génio absoluto, ao lado de Graham Coxon, Alex James e Dave Rowntree, de novo (ou pela primeira vez) é uma experiência que não se esquece. E só nos resta rezar para que a oportunidade surja de novo.

Dia 1 de Junho
O último dia do Optimus Primavera Sound começou para nós às 19h e pouco a conhecer The Drones. A música às vezes tem destas coisas: o nome que escolhem pode ser o suficiente para querermos conhecer e descobrir mais. Era o caso dos Drones, que têm um nome apelativo mas que de nada ou quase nada têm de interessante. São australianos e percebe-se que trazem algumas influências de Nick Cave mas apresentaram-se com uma certa arrogância que as músicas não souberam equilibrar. Foi um tiro longe do alvo.
Mas abriu o apetite para o que se seguia. Melhor seria de certeza e foi! Os Dinosaur Jr. já andam nisto há muito tempo, são veteranos, fizeram digressões com os Nirvana. O trio liderado por J Mascis esteve muito bem, com muita distorção bem patente em músicas como “Freak Scene”, “Feel The Pain” ou na sua versão de “Just Like Heaven” dos Cure e sempre com Lou Barlow (no baixo) frenético a pedir ao público para acordar (provavelmente do concerto anterior, dizemos nós).
Estava na hora de dar uma pequena volta e confortar o estômago com a brilhante carne argentina para avançar até Explosions in the Sky. Ora, este quarteto texano (que se apresenta em palco com um quinto elemento) toca basicamente músicas instrumentais, sem voz, o que pode parecer algo estranho num festival. De facto é um pouco, ninguém canta, nem em palco, nem na audiência, mas isso não impede de forma alguma de ser um grandioso espectáculo. Os Explosions apresentaram-se num português perfeito “Nós somos os Explosões no Céu” e deram início a uma viagem de riffs, de distorções, de melodias muito bem construídas. Muito bom o concerto deste rock instrumental para uma grande legião de fieís fãs que os Explosions in the Sky têm.
A seguir no palco Super Bock tocaram os Liars. Para quem gosta dum rock electrónico algo histérico foi um bom concerto. Não foi bem o nosso caso que mais assisitimos a este concerto para descansar um pouco o corpo. Mas houve bons momentos proporcionados por Angus Andrew e companhia, que ainda nos fizeram abanar as pernas ao ritmo da batida frenética, principalmente deste último álbum “WIXIW”.
Os cabeça de cartaz do palco principal para esta noite eram os My Bloody Valentine. Não terá sido a melhor escolha pois certamente não seriam a única opção. É que na verdade estes ingleses não corresponderam de todo. Não demos sequer oportunidade a mais do que as 4 músicas iniciais, demasiado letárgicas para agarrar uma pessoa. Mais pareciam estas 4 músicas eram 8 tal o tempo que duraram em loops intermináveis. Já dizia o outro: “parar é morrer” por isso siga para onde haja movimento.
E movimento foi o que se encontrou no palco ATP onde estava Titus Andronicus. Este quinteto de Nova Jersey respira através do seu principal membro, Patrick Stickles, vocalista/guitarrista/compositor e em bom português, um “janado de primeira”! Entra em palco a comer uma banana, explica que um bidé serve para utilizar depois da sanita e não ao contrário como terá feito e canta com uma voz que lhe falha, apesar do enorme esforço que faz para utilizá-la. Vieram para tocar “Local Business”, álbum de 2012, e no meio de tanto… “jananço” deram um concerto muito forte em que reveleram excelentes canções, também de um novo álbum anunciado por Stickles.
A noite já ia longa e a última paragem, a caminho da saída, passava pelo palco Pitchfork, onde os Fucked Up iam actuar. Damian Abraham, o seu vocalista, já tinha actuado esta noite quando cantou a última música de Dinosaur Jr.. Olhamos para ele, uma bisarma, careca e barbudo, e pensamos que é um bully de primeira. Não parece cantar, só grita como se faz no punk hardcore, mas os Fucked Up não se enquadram bem no punk, é mesmo hardcore rock, e do bom! Abraham, que consta ser um tipo inteligente e dócil (ao contrário do que parece) não gosta de estar em palco. Passou o tempo a cantar dobrado por cima do público ou mesmo no meio dele. Foi bom, Fucked Up estão bem para um festival.
Por fim, há que referir: este festival é de facto um dos melhores. Podemos sempre discutir cartazes que cada um tem o seu gosto, mas em termos de organização, espaço e ambiente, pouco haverá melhor. Nota extremamente positiva para o facto de, estando esgotado (como terá estado na segunda noite, de Blur) podemos circular à vontade, dançar e respirar. Não é preciso estar de plantão uma hora antes à frente de um palco para se conseguir ver um concerto lá à frente.