Na passada quinta-feira, 5 de Junho, assistiu-se a uma noite de descarga eléctrica no Popular Alvalade, com os Asimov e os Quartet of Woah!.
Os Asimov abriram a noite, começando pouco depois das 23h00, e trouxeram fúria psicadélica na guitarra distorcida de Carlos Ferreira (que apareceu lesionado e de muletas, sem que isso tivesse tido consequências no seu desempenho), acompanhada de forma impressionante pelo baterista João Arsénio. A banda, nas redes sociais, descreve-se como uma banda de «Heavy Psych Explosions». A auto-avaliação é tão certeira que é impossível não a citar.
Os Asimov começaram por tocar «Nothing in return»: solo inicial de guitarra distorcida, que se prolonga para que se possa imergir na música, até à entrada da bateria: primeiro mais tímida, a acompanhar a guitarra, até se dar a explosão total, com a voz profunda e grave de Carlos Ferreira a gritar «Yeah/Yeah/Yeah» por cima do ataque furioso de João Arsénio à bateria e do som distorcido e frenético da guitarra eléctrica. O começo foi auspicioso, com uma das melhoras músicas do duo a oscilar constantemente entre a contenção possível e a explosão desejada (10 minutos foi aproximadamente o tempo que durou a canção, o que permite esta grandiosidade).
A mensagem estava dada: e seguramente que, quem sabia ao que ia, não se terá sentido minimamente defraudado.
Seguiram-se as canções “This city’s dead” e “Dead of Night”, esta última mais prolongada que a versão disco: a mesma contenção inicial na guitarra e bateria (e, novamente, contenção com os Asimov tem de ser colocada em contexto) que se transforma em riffs poderosos de Carlos Ferreira acompanhados a primor (ou a suor) pelo hábil baterista.
O disco mais recente, “Overseas”, de 2013, só começou a ser tocado à quinta canção, com «Kingsize mark”. A canção mantém a toada das anteriores até ao momento em que a bateria se torna quase inaudível e só a guitarra fica a pairar em modo espacial. Dá-se então a catarse final, cuja chegada é sempre certa (o que não a torna menos criativa). A banda regressa então a Algures no Mundo é Noite, disco de 2012, com “Return to Kanaan” e “On Through the Night”, chegando o concerto ao fim com a música “Don’t Leave Me This Way”, em que Carlos Ferreira, como que possuído pela explosão sónica da canção, sai do palco para tocar junto ao público presente.
Os Asimov provaram, esta noite, que não são para meninos. E mostraram que se o psicadelismo é para nos levar ao espaço, então eles preferem que lá cheguemos excedendo os limites de velocidade.
Seguiram-se, então, os The Quartet of Woah!, uma banda que alinha no mesmo campeonato dos Asimov. Não havendo a mesma distorção psicadélica, a ideia base mantém-se: rock de descarga e catarse, riffs de guitarra explosivos e um baterista também ele muitíssimo bom a acompanhar o ataque organizado que a banda faz aos instrumentos.
No caso destes Quartet of Woah! há algo que os distingue: o órgão eléctrico. Este – e, evidentemente, a mestria de Rui Guerra a tocá-lo – garante à banda um estilo único e imprevisível: ouvimo-lo a soar em modo “balada acelerada” sobre o canto do vocalista e guitarrista Gonçalo Kotowicz, para que, quando tudo descamba, ser parte de um ataque frenético colectivo onde todos se unem em perfeita sintonia numa explosão sonora. Essa imprevisibilidade foi um dos seus trunfos no concerto.
O concerto, que até teve direito a “encore” improvisado por solicitação do público, teve outros momentos altos em canções como “Master Lever Had a Dream”, “The Announcer” e “The Machine Limps Toward the End”, onde se pôde ver que o rock “a rasgar” da banda resulta ainda melhor ao vivo do que em disco (o que, pela qualidade do seu primeiro álbum, diz muito da sua performance). Mas os amantes do rock fervilhante seguramente terão encontrado, esta noite, duas bandas onde a sintonia entre elementos é muita: o que, atendendo à sua música quase “impulsiva” (e de referências certas), diz muito do que valem.
Se é verdade que ambas as bandas mereciam “casa cheia” e um público mais efusivo (que se viu a espaços, sobretudo no concerto dos Quartet of Woah!), é igualmente verdade que o essencial esteve lá – a música. E essa é o garante de que, num espaço maior, ambas as bandas podem dar concertos que fiquem na memória: se não na actual, pelo menos na futura. O Festival Reverence Valada, que decorre em Setembro no Cartaxo, será uma belíssima oportunidade para ver os Asimov e os Quartet of Woah! num contexto de afirmação: e urge não perder o acontecimento. Estes dois concertos não deixarão, contudo, de ser recordados no futuro por todos os presentes. E isso fez valer a noite.
(Fotos: Luís Martins)