Beneath the Eyrie é o melhor dos três discos da “nova fase” dos Pixies, mas esta faceta madura e até negra não consegue voltar a capturar a magia dos tempos iniciais
Os Pixies parecem ter finalmente estabilizado, enterrado que está o longo e incontornável capítulo Kim Deal. A entrada de Paz Lenchantin teve um efeito pacificador sobre os rapazes e o líder Frank Black está inclusivamente a dar-lhe mais protagonismo e espaço do que à sua antecessora no baixo (Lenchantin co-assina vários temas do novo disco).
A vida da banda pode dividir-se em três fases: a imperial, aquela em que tomaram de assalto as rádios independentes na fase de transição dos oitentas para os noventas e inspiraram vários grupos que dominaram esta última década (como os Nirvana); a fase do dinheiro, quando se voltaram a juntar para fazer digressões pelo mundo fora; e a nova vida, com o regresso aos discos de originais.
Inicialmente ainda com Deal, editaram o fraquito Indie City em 2014 e, em 2016, o melhorzito Head Carrier. Agora é a vez de Beneath the Eyrie, que está a ser recebido pela crítica – que tão devastadora tem sido para os Pixies nos dias de hoje – como um regresso à boa forma, ainda que não aos bons velhos tempos.
É um pouco esse o nosso veredicto. Beneath the Eyrie consegue, aqui e ali, lembrar-nos a razão pela qual passámos tantos anos a amar os Pixies: a bonita e cansada “Ready for Love”, a fantasmagórica “Los Surfers Muertos”, ou a pedrada rock de “St. Nazaire”. Há ainda um tom negro que lhes fica bem, e que ensopa logo o tema de abertura, “In the arms of Mrs. Mark of Cain”, bem como a capa do disco.
As boas notícias é que, ao terceiro disco desta fase, os Pixies deixaram de tentar imitar os sons da sua adolescência e juventude, falhando. A má notícia é que fica por perceber qual a utilidade tem este mundo para uns Pixies “maduros”, sendo competentes e até, a espaços, inspiradores.