Quarenta anos é uma idade bonita! Os Orchestral Manoeuvres In The Dark já não vão para novos, mas quando tocam as canções mais antigas, voltam (eles e nós) aos tempos dourados da sua (nossa) existência.
Não há como fugir ou disfarçar esta inequívoca realidade: os Orchestral Manoeuvres In The Dark (OMD) foram, no final da década de 70 e sobretudo nos primeiros anos de 80, a mais importante banda de electro-pop do mundo, e por isso a sua influência chegou até aos nossos dias. Que o digam James Murphy (LCD Soundsystem) ou os XX, isto apenas para não sermos muito exaustivos nos exemplos a dar que, acreditem, poderiam ser muitos e de peso. E também por isso, mas sobretudo por gostarmos deles, fomos assistir ao arranque da digressão europeia da mítica banda de Andy McCluskey e Paul Humphreys. Comemoram, em 2019, 40 anos de existência, embora com alguns períodos de paragens pelo meio. Pouco importa esses silêncios temporais. A “Souvenir Tour” não tem como enganar. Uma viagem pelos sucessos dos OMD oferece sempre garantias de alguns bons momentos. Já o sabíamos, mas mesmo assim decidimos ir constatar. Foi ontem, na Aula Magna.
A pedido dos OMD, os portugueses Cavaliers of Fun abriram a primeira parte. Uma honra, seguramente, para quem quer fazer “música para dançar contemplando as estrelas”. A banda do ex-Loto Ricardo Coelho continua a fazer música simpática e o som propenso ao abanar do esqueleto que se lhe cola à pele deverá ter agradado às estrelas britânicas que os ouviram e os convidaram. No entanto, como tantas vezes acontece em situações similares, os lugares lotados (estariam todos, efetivamente?) da Magna sala de Lisboa estavam apenas interessados em ouvir os homens que, em tempos, quiseram imitar os deuses maiores de Düsseldorf, os sempre icónicos Kraftwerk. E assim, durante a atuação dos “cavaleiros” lusitanos, foi crescendo uma certa impaciência no recinto, que só parou com as primeiras notas de “Isotype”. Depois, aconteceu o que já se perspetivava: uma imparável sequência de alguns belos e orelhudos temas que foram fazendo parte da banda sonora de muitos (talvez até de todos) os que ontem resistiram ao chamamento do sofá de casa, para se instalarem confortavelmente no balcão nostálgico da memória. Não se terão arrependido um único instante, a avaliar pelo constante reboliço sentido na sala. Ainda bem para eles.
Êxitos menores (a comparação é sempre uma coisa tramada) como “Tesla Girls”, “History of Modern (part 1)”, “Pandora’s Box” ou “(Forever) Live and Die” são malhas Pop sem o balanço e a mestria de algumas outras, sobretudo as que ocupam o largo pódio da carreira dos OMD. Alguns temas menos conseguidos envergonham um pouco o legado da banda, e nada ajudam à festa. No entanto, houve tempo para tudo e a diversão foi sendo garantida com base em alguma mediania sonora. Até que “Souvenir” surgiu, e aí a conversa foi outra. Continua uma canção linda como poucas, perfeita para a voz mais doce de Paul Humphreys. A canção continua a roçar a perfeição!
Enfim, com trunfos como “Souvenir”, “Joan of Arc”, “Joan of Arc (Maid of Orleans)”, “Enola Gay” ou “Electricity” (a última canção a ser tocada ontem, o que faz sentido, uma vez que foi o primeiro single da banda, fechando o concerto retrospetivo) tudo correrá às mil maravilhas. Mesmo assim, o concerto foi-se ressentindo um pouco quando apostou em temas mais recentes, longe dos sons dos primeiros quatro ótimos álbuns. Tivemos, no entanto, direito a uma “world premiere”, simpatia com nos brindou a banda. Um potencial hit à moda antiga. Fica o aviso para um futuro próximo. Também fomos agraciados pelo primeiro b-side da história dos OMD, a velhinha e deliciosa “Almost”. Que boa surpresa!
Foi simpática a noite e pouco importa ponderar sobre o que o tempo foi fazendo dos OMD. É a memória que mais importa em algumas ocasiões e ontem, seguramente, terá sido uma delas.
Fotografia: Francisco Fidalgo