A décima edição do Primavera Sound da cidade invicta está a chegar. Desta vez, o Parque da Cidade vai receber quatro dias de música. De 7 a 10 de junho, o Altamont rumará a norte e estará pronto para vos relatar o que de melhor por lá vier a acontecer.
Talvez porque o número seja bonito , redondo e comemorativo, serão quatro os dias de festa sonora e visual, o que é inédito na história do Primavera Sound em terras do norte do país. 10 anos merece algo especial, convenhamos! As novidades, no entanto, não ficam por aí. O Parque da Cidade cresceu, e um palco novo será uma realidade neste quase verão de 2023. Maior extensão do recinto, mais concertos, um dia a mais do que sempre foi comum fazer-se. Que venha a festa e que seja boa, memorável, imperdível. Não fazemos a coisa por menos, como se vê. Assim nos ajudem os deuses da meteorologia, que nem sempre parecem simpatizar com as datas festivas do Primavera. Já assistimos a dilúvios tremendos e a noites fantásticas. Enfim, venha o tempo e a música que vier, o Altamont não arredará pé do Parque da Cidade.
O primeiro dia (7 de junho) terá menos concertos do que os restantes três. No entanto, não o entendamos como uma espécie de warm up dos seguintes, até porque serão milhares os que vão querer ver a atuação do cabeça de cartaz dessa data inicial. Trata-se, claro está, do norte americano Kendrick Lamar, que por volta das 0.20 horas trará à noite portuense o seu hip hop contemporâneo. No entanto, e bem antes desse momento, há que espreitar e sentir as Primaveras de Beatriz Pessoa, um pouco depois da hora do chá. Mas também, um pouco mais tarde (19.45 horas), não deixaremos de espreitar a senhora Alison Goldfrapp e a sua irreverência dançante. As expectativas, no entanto, não ficam por aí. Quando já for noite sobre nós, os The Comet Is Coming entrarão em palco, e valerá a pena apreciar o seu jazz electrónico e psicadélico. Para primeiro dia, não está nada mau.

O segundo dia (8 de junho) terá outro recheio, outra variedade e muitos mais concertos. Os portugueses Fumo Ninja abrirão as hostilidades por volta das 16.30, e o concerto promete, tendo em conta a qualidade dos seus Olhos de Cetim de março de 2022. Núria Graham (a catalã que engana por cantar maioritariamente em inglês), a britânica Arlo Parks (com novo disco este ano), Gaz Coombes (sim, esse mesmo, o vocalista dos Supergrass), mas também The Mars Volta podem dar espetáculos interessantes. Mas não há como escapar: o frenesim, a excitação e a impaciência que se fará sentir quinta-feira vai estar toda virada para Rosalía, que promete lágrimas e gritos durante toda a sua atuação. Para alguns, no entanto, será a hora certa para se comer qualquer coisa. É tudo uma questão de apreço ou de falta dele pela senhora do país vizinho. E por volta 2.20 da manhã, se o corpo ainda estiver apto e capaz, espreitar a dupla Jockstrap pode muito bem ser coisa de valor.

E como nestas antevisões tudo avança com rapidez, no dia 9 serão também vários os momentos altos, a saber: Blondshell (estamos curiosos, sim), os velhinhos My Morning Jacket, que são sempre surpreendentes em palco, mas também os veteranos Pet Shop Boys para um despreocupado pezinho de dança. Ou, numa vertente mais arty, quando os relógios marcarem as 23.20 horas, há sempre a hipótese de espreitar St. Vincent, que a julgar pelo concerto que deu no Passeio Marítimo de Algés no verão passado, valerá muito a pena voltar a assitir. É claro que vale ainda referir o pop-rock alternativo dos Terno Rei, o quarteto paulista que vem ao Primavera apresentar o recente Violeta, ou também os indie-rockers com inclinação para o shoegaze de nome Wednesday, estes bem mais cedo, ao cair da tarde. O dia será longo e proveitoso.

E como tudo o que começa tem um fim, o último dia (10 de junho) do Primavera Sound 2023 terá óbvios motivos de interesse, naturalmente. Desde logo pelo tão esperado regresso dos saudosos Blur (com disco novo debaixo do braço, ainda por cima), mas igualmente pelos concertos dos Yard Act, Sparks (que bom, que maravilha!), Julia Holter e os veteranos e sempre dançantes New Order. Como se vê pelos nomes mais sonantes, será um fartote. Mas para além dos nomes grandes, há os que aparecem em letras mais pequenas nos cartazes, como os norte americanos Karate, que mais de uma dezena de anos depois estão de volta aos palcos. Mais novinhos, os Nation of Language podem transportar-nos até aos perfumes da moda nos anos oitenta, fazendo lembrar, a espaços, bandas como os Orchestral Manoeuvres in The Dark (tudo terá começado com a audição da famosa “Electricity”, ao que parece), os Tubeway Army, de Gary Numan, ou os Ultravox de John Foxx e Midge Ure. Para muitos, este será o melhor dos dias do Primavera Sound!

Não quisemos ser exaustivos no que aqui propomos. Uma das coisas boas dos festivais de música é a descoberta de artistas, e estamos certos de que desta vez também será assim. Muito para ouvir, portanto. Outro tanto para ver, pois claro. Os festivais fazem-se de tantas coisas, que o elemento surpresa está sempre ao virar da esquina. Para já, o que nos move são as nossas certezas e as nossas convicções. O que aqui vos deixamos é apenas uma fatia de um bolo maior em que os ingredientes são sempre saborosamente os mesmos: alegria, convívio, amigos à volta de boa música e de bons espetáculos. Por isso, não há que enganar: se não puder ir até ao norte, o norte irá ter consigo através destas páginas. Não se esqueça: o Altamont está em todo o lado! Não nos perca e fique connosco em mais este Primavera Sound 2023!