Os Doors só precisaram de seis dias para gravar o disco de estreia. No disco que a Rolling Stone coloca entre os 50 melhores da história, estavam “Light My Fire”, “Break on Trough”, “Back door Man” e “The End”, mas isso pouco interessa. Nos cinco anos seguintes, fariam mais cinco discos de originais (com Jim Morrison) e um incontável número de canções memoráveis. Nada que Oliver Stone se tivesse lembrado ao realizar Doors, o Mito de uma Geração (1991). O filme que decorei, que ajudou a fazer dos Doors uma das minhas bandas, o filme que aprendi a odiar.
Morrison era genial, uma das primeiras estrelas de rock malditas. Um brilhante vocalista, com ânsias de poeta e garboso toxicodependente. Viveu, pouco, na geração de músicos que se julgava imortal, a que inaugurou o clube dos 27 – o clube onde Morrison, em 1971, já encontrou, Brian Jones, Janis Joplin e Jimi Hendrix. Mas se Morrison nunca foi confundido como sendo apenas mais um vocalista, os Doors também nunca deveriam ter sido confundidos como a banda que musicava os poemas do Rei Lagarto. Uma imagem que Oliver Stone alimentou com o seu, trágico, filme.
Ao longo de mais duas horas sobram tripes, desvarios, proezas e falhanços sexuais do vocalista. Mas ao longo das duas horas em que é alimentado o mito de Morrison, sex symbol, poeta amaldiçoado, cantor incontrolável, nunca se explica a música, afinal o ingrediente que, verdadeiramente, assegurou que hoje, passados mais de 40 anos ainda os mantém vivos.
Da mesma forma que nunca se ouviu uma nota foleira sair da guitarra de Robby Krieger, que nunca faltou inspiração a Manzarek ou Densmore falhou um tempo, Oliver Stone também não sabe fazer maus filmes. Com uma banda sonora de luxo, Val Kilmer no melhor papel da carreira e com toda a mestria do senhor de Platoon, Wall Street ou Nascido a 4 de Julho, O Mito de uma Geração está longe de ser um mau filme. Ainda assim, ao mesmo tempo que confirma Morrison como Deus no Panteão do rock, relega os restantes músicos para o, injusto, papel de espectadores. A história da banda mais negra dos anos 60 norte-americanos continua por contar.