Era outono de 2000 quando Kate Hudson vestia o casaco de pêlo da icónica Penny Lane, Billy Crudup dava voz ao vocalista dos Stillwater e Patrick Fugit era introduzido ao mundo irreverente do rock & roll.
Com raízes um quanto autobiográficas, Cameron Crowe apresenta-nos William (Patrick Fugit),um jovem de 15 anos, que, influenciado pela coleção secreta de vinis da sua irmã, aspira a ser um jornalista freelancer, escrevendo artigos para revistas de música.
Tal como o próprio realizador, que até aos dias de hoje é um ávido colaborador da Rolling Stone, o nosso protagonista é selecionado por um dos editores da revista para acompanhar a famosa banda, Stillwater, em digressão.
Como cenário, temos a cidade de São Diego em plenos anos 70. Ao contrário das telas douradas que invadem a máquina industrial hollywoodiana, o mundo do rock & roll era inquieto e descomposto. Cabelos despenteados, óculos de sol sempre à mão e partículas de eyeliner da noite anterior integravam a lista de bens indispensáveis.
Os tons exuberantes e coloridos delineiam a trajetória de William e da banda enquanto o primeiro afronta a proteção rígida da mãe e tenta ultrapassar o estatuto de inimigo, imposto, maioritariamente, por Russell (Billy Crudup).
Embora a presença de jornalistas no mundo da música seja algo comum desde o século XVIII, muitos músicos viam o seu trabalho como um inconveniente indesejado. O próprio Kurt Cobain, líder dos Nirvana, criticava, regularmente, artigos expostos em inúmeras revistas premiadas, sendo a Rolling Stone um de muitos exemplos, por especularem demasiado sobre álbuns por criar e intrigas pessoais.
William acaba por encontrar na radiante Penny (Kate Hudson) uma forte aliada.
Como é típico de Crowne, que mergulha na realidade, tingindo-a com salpicos de ficção, também Penny é inspirada em alguém real. Nos anos 70 as groupies marcavam o standard de cool girls, delineavam as modas e frequentavam os melhores bares da cidade; porque no final do dia o que importa é divertirem-se. Foi a Penny que melhor o disse: “I always tell the girls to never take it seriously, if you never take it seriously you never get hurt, if you never get hurt you always have fun. And if you feel lonely, just go to the record store and visit your friends”.
É essa mesma lição que entrega a William. Ao longo do drama ele é testemunha perante o desenrolar de discussões acessas e disputas pela luz da ribalta; o comportamento independente de Russell, que mete em perigo o futuro da banda, parte o coração de Penny e, no mesmo passo, atraiçoa William, constituem obstáculos que parecem ultrapassáveis.
Sem querer estragar o desfecho para aqueles que não estão familiarizados com a história, digo apenas que todas as partes se harmonizam para culminar num desfecho reluzente, ainda que não completamente triunfante. Afinal sempre existirá algo que os une a todos: o rock & roll.
A própria banda sonora parece saída de um glorioso festival, onde The Velvet underground, The Beach Boys e Cat Stevens aguardam, na linha de espera, para atuar.
Nunca três horas valeram tanto a pena. Almost Famous promete encantar qualquer amante de música.