Para começo de conversa – este que vos fala detesta de morte o conceito, o rótulo fácil, e mesmo a palavra grunge em si. É uma forma fácil e como tal desinteressante de olhar para este fenómeno surgido em Seattle por alturas de fins dos anos 80, início dos 90. Não estranhem portanto a resistência a essa ideia durante este post.
Ataquemos então este Bleach, o álbum dos Nirvana antes de serem Os Nirvana que toda a gente no mundo conhece, os Nirvana do “Smells Like Teen Spirit”. E começar por dizer que Bleach é um álbum rico, com excelente músicas, tão boas como as que os Nirvana vieram a fazer mais tarde, apenas com uma pecha, de seu nome Chad Channing, o baterista que participou neste álbum e do qual Kurt e Krist felizmente se viram livres para o seguinte. Utilizando influências de bandas ali da zona, os já na altura conhecidos Melvins e Mudhoney, combinada com punk dos anos 80 (Black Flag) e heavy metal dos 70’s (principalmente Black Sabbath), os Nirvana encontraram a sua fórmula própria, baseada num constante debate de ritmos, um trava e acelera, bem vísivel em músicas como “Floyd the Barber” e “Scoff”. Uma fórmula que também inclui melodias anti-amor como “About a Girl” e no outro expoente riffs bem rasgadinhos suportados pelo raiva/negativismo/angústia patentes na voz de Kurt em “School”, “Negative Creep” e “Blew”. E, a acrescentar a isto tudo, o que é para mim um dos pontos altos do álbum (apesar de não ser original deles e sim uma cover dos Shocking Blue), “Love Buzz”, o baixo de Krist a assumir a batuta e deixar Kurt a pavonear-se com a sua guitarra em solos dementes, intermediados por voz simples nos versos. Um portento.
Para um álbum que custou uns meros 600 dólares (informação que consta na contra-capa do mesmo) convenhamos que não está nada mal. Reza a história que quem pagou a produção do álbum foi Jason Everman, listado como segundo guitarrista apesar de não ter participado no álbum de todo, a não ser o facto de aparecer na capa do mesmo. Para além disso é o álbum mais vendido de sempre da Sub-Pop, já que de 40.000 cópias vendidas na altura do lançamento, muito por conta de boa rotação em rádios universitárias, saltou para 1.7 milhões depois da explosão Nevermind. No fundo já é bem notória neste álbum a capacidade de Kurt de criar grandes músicas através do melting pot de influências referidas acima e dando-lhe ainda o seu cunho pessoal, o seu mood mais desiludido e raivoso com a sociedade que o rodeava, sentimentos com os quais muitos se identificaram naquela altura.
Bleach ainda hoje se ouve com todo o prazer de uma primeira vez, e foi esse o sentimento dominante nas escutas que fiz durante esta semana como preparação para a escrita deste post. São os Nirvana num estado cru e puro, sem o peso de músicas ouvidas vezes sem conta que paira sobre Nevermind.