Estou à procura de uma metáfora que me ajude a enquadrar a análise que fiz ao trabalho mais recente de Jagwar Ma, mas por mais que tente, nada parece querer sair. Não me costuma acontecer isto, normalmente, no que toca a arranjar conexões mirabolantes entre alhos e bugalhos gosto de pensar que não me saio mal, mas estou perplexo com este Howlin… Há uns anos, quando Lana del Rey começou a aparecer em todo o lado, de toda a forma e feitio, pensei para mim mesmo, “bolas, como é que se consegue ser tão forçado”. Espantava-me como seria possível formatar uma cabeça, com números, estatísticas e modas, de tal forma. Certamente estava perante um caso único! Enganei-me…
Os australianos Gabriel Winterfield, Jono Ma e Jack Freeman compõe este grupo que, apesar de ter um aspeto exterior intrigante, que nos prende, de certa forma, não conseguiram escapar à pressão de fazer hits. Com uma sonoridade que procura o indie-rock/pop, temos um trabalho que denota uma clara vontade de agradar, seja a que custo for. A nível de composição instrumental, fico dividido. Sem ter muita coisa para trás que consiga dar uma ideia daquilo que está na sua base musical, arrisco-me a dizer que estes três rapazes são eletrónicos de gema. Com uma série de variantes House a servir de pano de fundo para praticamente todo o álbum, nota-se que estão como peixe na água: o aprumo dos samples e das combinações voltaicas que constroem destoa completamente com o rock desleixado e pouco conseguido que os acompanha.
Liricamente não há muito por onde pegar, estando muito ligados aos clássicos temas de raparigas, amor e afins, o que não é necessáriamente mau, temos exemplos de outros portentosos músicos que falam da mesma coisa e não é por isso que deixam de ser bons. Simplesmente quando já se sentem fragilidades, tudo o resto que, noutra moldura, possa parecer inconsequente, fica mais feioso. A voz também não ajuda em nada, com exemplos de falhanços redondos como os falsetes iniciais de ”The Throw”, por exemplo.
Basicamente, a ideia com que eu fiquei deste álbum é de que os Jagwar Ma estão “a vestir roupa que não lhes serve”, ou seja, ao optarem por este registo mais leve, claramente de verão, de sunsets na praia e noites pegajosas, estão a descurar o enorme talento que revelam no manusear do sintetizador. Podemos estar a perder um grupo de músicos house excelente para ganharmos mais uns Foster the People sensaborões.
Se estivermos à procura de um disco pouco desafiante, que se limite a encher os nossos ouvidos enquanto, de mojito em riste, trocamos conversa com uma miúda gira, então aconselho Howlin. Mas se o normal não for suficiente, peço-vos para que arranjem maneira de falar com estes moços e lhes digam para não inventarem. Stick to what you do best.
Mas chega de ser corrosivo, há alguns ângulos agradáveis (para lá da excecional qualidade de instrumentação digital que já mencionei): “Come Save Me” tem nota positiva assim como a “Uncertainty” que, lá está, são as faixas com maior presença digital, com uns sintetizadores psicadélicos que nos deixam um gosto agradável na boca.
Com metáfora ou não, uma coisa sei de certeza, lá no fundo, bem lá atrás, mais longe do que a distância entre Portugal a Sidney, estes rapazes têm talento. Têm é de o soltar…