Neil Young volta a juntar-se ao seu velho grupo para um disco sentido e em que a antiga chama continua presente
A primeira encarnação dos Crazy Horse nasceu no longínquo ano de 1969, quando Neil Young os recrutou para gravar o seu segundo disco, Everybody Knows This is Nowhere. Desde então, a história do músico canadiano mistura-se com a deste conjunto, gravando muitos discos juntos, com períodos de afastamento pelo meio, quando Young vai mais para o lado acústico, por exemplo. Ao longo dos anos, o músico foi-se juntando a vários grupos para projectos específicos ou avançando a solo mas os Crazy Horse são aquilo que há de mais parecido com a sua banda.
Daí a expectativa em relação a este Colorado, o primeiro disco com os Crazy Horse em sete anos, fechando uma década em que Young não abrandou mas que também não nos trouxe qualquer disco incontornável entre os melhores da sua extraordinária carreira. Os Crazy Horse sempre foram associados ao lado mais eléctrico, ao som mais pesado de Young, acabando por ser o complemento ideal para o seu frágil tom vocal, que nos evoca ternura e sentimento.
Por outro lado, os esquecíveis últimos discos de Young – nunca maus, naturalmente – têm sido marcados por aquela pressa em gravar e partir para a próxima, deixando sempre aquela sensação de que, para ele, é mais importante marcar o momento e dizer algo do que fazer um disco pensado, burilado, um possível futuro clássico.
Colorado também não é esse clássico, diga-se, e volta a não contar para os discos incontornáveis da discografia do canadiano (o último a merecer essa distinção é talvez o plácido Silver & Gold, de 2000, ou certamente Sleeps with Angels, o absoluto clássico de 1994). Muitos anos e muitos discos passaram, portanto.
Apesar de tudo, não é irrelevante o regresso dos Crazy Horse. Temos aqui o típico som desta parceria, mais pesado e arrastado, permitindo à guitarra de Young brilhar naqueles seus tão típicos solos, mais cheios de sentimento do que de técnica. Em Colorado, há um regresso a temas que têm obcecado Neil Young há muitos anos e que agora são mais prementes do que nunca, acima de todos o ambiente e o nosso ameaçado planeta. E ainda a passagem do tempo, com o que ficou por fazer e a vontade de ainda mudar algo no pouco tempo que resta, algo absolutamente incontornável para um conjunto de músicos que apresentam a significativa média de idades de 73 anos.
Aquilo que ouvimos em Colorado é isso e sobretudo um grupo de velhos rockers ainda a curtir profundamente sacar das guitarras e voltar ao ringue. Este é um disco que, como é habitual nos trabalhos deste músico, é para ouvir como um todo. Ainda assim, destacamos o muito bonito fecho de “I Do” (com uma simples e ternurenta letra que pode bem ser acerca dos próprios Crazy Horse e o seu fim de linha) e a lenta “Milky Way”, marcada pelo som pungente e sofrido da guitarra eléctrica de Young, como alguns dos pontos mais altos de Colorado. E não podemos deixar de mencionar a assertiva letra de “Rainbow of Colors”, um verdadeiro manifesto de amor à diversidade e um statement de oposição às políticas divisivas de Donald Trump.
Andamos há anos a perguntar se Young ainda terá dentro de si um disco extraordinário. Ninguém sabe a resposta, se ele terá essa inspiração ou a paciência para estar um ou dois anos a trabalhar num único álbum “definitivo” dos seus tempos modernos. No entanto, se continuar a editar discos como Colorado não nos podemos realmente queixar. Se calhar, não podemos exigir mais de um veterano de tantas batalhas, dar-nos discos bem feitos, sentidos e ligados ao momento. Já não é pouco.