Mais um disco de Destroyer, mais uma pérola esparsa e muito característica do canadiano Dan Bejar.
Começamos bem o ano quando Destroyer nos dá música nova. Arranquemos então 2020 com o lançamento de Have We Met, o décimo terceiro disco (!!!) do canadiano que nos leva sempre para o seu mundo muito próprio de crooner a cantar em sala dos fundos de um grande casino em Las Vegas, sala vazia e a tresandar a fumo, onde só param os pobres coitados que perderam o dinheiro todo e só estão a apreciar o último whisky antes de irem para casa. Apesar de nunca ter lá estado na realidade, no meu imaginário é assim que a coisa é, e é lá que estou quando mergulho no som de Destroyer, sendo que o videoclip que apresentamos abaixo, de “Crimson Tide”, com certeza contribui para isso, aquela cadeira, aquele microfone, aquela desenvoltura tímida a cantar.
Kaputt (2011) continua a ser a grande jóia da coroa da discografia, e será sempre um Olimpo dificil de re-criar. Mas parece-me que este Have We Met será o que mais se aproxima de entre os discos lançados entretanto (Poison Season (2015) e Ken (2017), ao qual há que adicionar o EP Five Spanish Songs pelo exercício de recriação que envolve). Bejar utiliza o seu cânone de letras dispersas sem sentido aparente (cada um que descubra o seu) com sintetizadores exuberantes a povoar cada canção, fórmula que vem afinando com o passar dos anos.
Uma dúvida que me tem assolado frequentemente é: Será que estamos a assistir a um exercício de nostalgia para com os sintetizadores tão em voga nos anos oitenta ou será que estamos mesmo lá, e a distância que separa 2020 de 1985 não é assim tão grande? Será que estamos a ver “Stranger Things” ou “Goonies” e “Aliens” (the real thing)? Chegamos a um ponto que se torna ténue a linha que separa uma cópia descarada de uma mera influência, será no fundo tudo pastiche de algo que já foi feito em algum ponto do passado? Destroyer é uma importante peça deste puzzle, a sua pop sofisticada e elegante encaixa bem em ambos os casos, como banda sonora em qualquer uma das referências acima mencionadas, tanto nos sentimos em 1985 como em 2020 quando o ouvimos.
Entrando um bocadinho no terreno das letras dispersas que falámos antes, vejam estes dois exemplos de como os twists fazem parte do seu modus operandi – em “Crimson Tide” a música arranca assim:
I was like the laziest river
A vulture predisposed to eating off floors
No wait, I take that back
I was more like an ocean
enquanto que em “The Raven”:
Just look at the world around you
Actually, no, don’t look
Bejar quer levar-nos por um caminho, para logo a seguir dar a indicação precisamente contrária, assim são os versos que constrói, quase nunca coerentes, mas enigmaticamente elegantes e que nos agarram imediatamente. Para tal, também em muito contribui a sua voz, elemento essencial na paisagem criada, sonhadora e envolvente em doses iguais. É ouvir Have We Met e deixarem-se levar pela sua beleza.