Quando lançaram o primeiro álbum (“Leisure”) os Blur estavam longe de imaginar que seriam um dos nomes mais marcantes da cena britânica nos dez anos seguintes. E que seriam protagonistas de uma das rivalidades mais conhecidas – e exploradas na comunicação social e pelas próprias editoras – da história da música.
O ano era 1991. Os Blur mostram-se ao público numa altura em que a onda “Madchester”, personificada pelos My Bloody Valentine ou algum psicadelismo dos Stone Roses, começava a decair. E se os Estados Unidos tinham o ‘grunge’ os britânicos precisavam do seu próprio movimento – seria o início do Britpop.
Antes do primeiro disco a banda seguiu o percurso habitual: Damon Albarn, o vocalista, conheceu o guitarrista (e voz) Graham Coxon, a outra alma dos Blur, na escola na década de 80 e fizeram algumas demos antes de partirem para a faculdade. Albarn foi estudar representação e Coxon arte. Voltaram-se a encontrar alguns anos depois numa festa da banda de Albarn na altura, Circus, que já tinha como baterista Dave Rowntree. Coxon apresenta Albarn a Alex James e eventualmente, quando os Circus se separaram, os quatro acabaram naturalmente a tocar juntos. Nascem, em 1988, os “Seymour” e é, aliás, com este nome que assinam contrato com a EMI, em 1990.
Por sugestão de um jornalista passam a chamar-se Blur, lançando o disco de estreia, Leisure, influenciado fortemente por Pink Floyd e, nas guitarras, pelos Beatles. O primeiro single, “She’s So High” entraria no Top 50 britânico. “There’s No Other Way” portou-se ainda melhor e o disco chegou a número 2 no Reino Unido.
Quando lançaram o primeiro álbum os Blur ainda não tinham apurado o som que, mais tarde, os caracterizaria. O disco era semelhante ao que se fazia na altura no Reino Unido. Só mais tarde os Blur recolheriam outras influências como The Kinks, The Specials ou até os Pixies, no que viria a tornar-se no som característico da banda e daria o pontapé de saída para o sucesso do Britpop. Ainda assim, podem já vislumbrar-se neste primeiro disco algumas características sonoras mais tarde exploradas em Blur.
O segundo trabalho, Modern Life is Rubbish, chegou ao 17º lugar no top e foi quando Albarn começou a explorar a veia de letrista. Mas foi com Parklife, de 1994 – com o single “Girls & Boys” -, que os Blur atingiram a projecção e reconhecimento que os levou a ganhar quatro Brit Awards em 1995.
Quando lançaram o The Great Escape, em 1995, os Blur já não estavam sozinhos no universo Britpop. Os Oasis tinham chegado para ficar e os manos Liam e Noel, da classe trabalhadora de Manchester e com atitude rebelde contrastava com o ar arrumadinho de classe média Londrina de Albarn e companhia. Quem foi adolescente na segunda metade da década de 90 sentiu na pele a rivalidade. Era preciso escolher lados, ou Oasis ou Blur, era impossível gostar dos dois.
E a rivalidade sentia-se, sobretudo, entre as editoras, com a famosa batalha da britpop, muito alimentada pela sedenta imprensa britânica. A editora dos Blur antecipou uma semana o lançamento de “Country House” para coincidir com o lançamento de “Roll With It” dos Oasis.
Os Blur ganharam a batalha mas não a guerra. O segundo álbum dos Oasis, (What’s The Story) Morning Glory, tornou-se num dos álbuns mais aclamados da década enquanto o The Great Escape não conseguiu passar da 150ª posição no top britânico.
Até 1997, com Blur, quando a “Song 2” e o seu orelhudo ‘woooo ho’ volta a pô-los, literalmente, na boca do mundo. Foi neste disco que a banda redefiniu a sua sonoridade, rompendo com os três álbuns anteriores, conhecidos como “The Life Trilogy”, procurando aproximar-se do que se fazia nos Estados Unidos, em bandas como Pavement ou até Sonic Youth.
No ano seguinte, novo disco, 13, um trabalho cheio de canções melancólicas a mostrar o estado de espírito de Albarn após a separação de Justine Frischmann, dos Elastica, com o single “Tender”. Mais experimental e electrónico, fruto também da mudança de produtor, é com este disco que os Blur se começam a distanciar do Britpop e o movimento começa a entrar em decadência.
Os Blur tinham conseguido sobreviver à primeira década como banda sem grandes perturbações, apesar de alguns projectos a solo de Coxon. Mas na viragem dos anos 00 e até ao projecto seguinte, Think Tank, de 2003, começaram os tempos tumultosos. Coxon, que tinha lançado a sua própria editora em 1998, começou a não se identificar com o caminho que a produção do novo álbum estava a seguir. Saiu pouco depois mas ainda hoje não é claro de quem foi a decisão de abandonar a banda. Coxon foi substituído, neste álbum, por Simon Tom, ex-guitarrista dos The Verve, outra banda do movimento Britpop. Só participa na última faixa do disco, “Battery in your Leg”. Em Think Thank, o último disco dos Blur, sentem-se já as influências de world music que Albarn exploraria na sua carreira a solo.
A saída de Coxon marcou o fim (temporário) dos Blur. Os restantes membros também começaram projectos a solo, expandindo a veia criativa noutras direcções. Albarn, de resto, desdobrou-se em projectos. Lançou o primeiro de quatro álbuns de Gorillaz, Demon Days, em 2005. Seguiram-se os The Good, The Bad & The Queen, um projecto cheio de nomes do Britpop, com Paul Simonon, baixista dos The Clash, Simon Tong dos The Verve e o baterista Tony Allen, de Fela Kuti. Em 2008 outro supergrupo, os Rocketjuice and The Moon. Nos entretantos, gravou um álbum durante uma viagem de apoio a uma ONG, no Mali, juntando música do Mali ao Britpop. Participou ainda num musical baseado numa antiga ópera chinesa. Já em 2014 lançou o álbum a solo Everyday Robots.
Em 2009 a banda anunciou uma reunião, que incluiu o regresso de Coxon, marcada por uma série de concertos, incluindo no Hyde Park, em Londres. Em 2013 estiveram por cá, no Optimus Primavera Sound, no Porto. Os Blur, contudo, não lançaram nenhum álbum depois de Think Thank.