A música portuguesa permanece ativa e fervilhante. Novas bandas, novos projetos, mesmo que, por vezes, através de artistas já conhecidos. É o que se passa com One, álbum de estreia a solo de quem agora se apresenta como Monday.
Monday é o projeto a solo de Catarina Falcão, uma das metades das bem conhecidas Golden Slumbers. Para os mais atentos, já no passado ano a pudemos ouvir na coletânea Novos Talentos Fnac 2017. O tema “Yo-yo” tinha sido escolhido para constar dessa reunião sonora em forma de cd, que há já alguns anos vai dando conta do que por cá se vai fazendo, privilegiando novos nomes, novos artistas, mesmo que não tão novos assim, como será este o caso. Já conhecemos a sua voz e o seu jeito do projeto que une as irmãs Falcão, que entretanto foram ganhando espaço, crescendo em direções diferentes, separando-se, sem no entanto se desunirem da empresa inicial, antes construindo percursos paralelos, como é o caso deste Monday. Depois de ouvirmos atentamente One, registamos aqui algumas diferenças em relação ao passado sonoro já trilhado, assim como também tomámos nota das particularidades que permanecem inalteradas, espécie de marca registada da artista.
A prevalência de uma vontade artística por um som de um certo recolhimento introspetivo, alguma soturnidade sonora evidente, um piscar de olhos a uma típica folk que tão bem conhecemos, tudo isto faz parte da marca registada da família Falcão. O facto da primeira faixa de One se intitular “Pink Moon” terá forçosamente uma razão de ser. Não é difícil perceber fascínios que tocam a todos, claro está, nem isso Catarina Falcão se atreveria a querer esconder, de tão evidente que é. Também nos parece seguro (e talvez mesmo inevitável) escutar alguns ecos de The New Messiah, por exemplo. A tristeza dolente, a cinza da voz e dos embalos, o gosto pelas letras bem trabalhadas… No entanto, também há novidades neste primeiro longa duração. Desde logo algum atrevimento rítmico que dificilmente esperaríamos aqui encontrar, sobretudo por imposição de um passado mais límpido, mais harmonioso. Chamar-lhe rock talvez seja um abuso de expressão (sim, não é rock aquilo que podemos encontrar aqui), mas alguma sujidade nas guitarras de “Learn” parece surgir de uma vontade de aproximação a esse estilo, embora numa vertente mais soft. O mesmo acontece em “30 Years” e na já referida “Yo-yo”. Essa talvez venha a ser a maior (e melhor?) novidade de One, quiçá pouco percetível em primeiras audições, mas que se vai, aos poucos, escutando com maiores certezas e com maior prazer. Em qualquer dos casos, e dando margem a opiniões diversas sobre aquela que deixamos aqui, parece-me um claro ganho esse novo apetite, mesmo que ligeiro, por um pouco mais de garra e fibra na hora de compor e de cantar o que se compôs.
No entanto, em One não se transforma água em vinho, coisa que seria inoportuna e descabida. Cat Falcão tem uma personalidade artística (tanto composicional, quanto vocal) bem vincada, e isso nota-se bem nesta sua primeira entrega a solo. O que aqui se ouve é bonito, soa bastante bem, tem distinção.
Que One seja apenas o início de uma contagem que possa ser continuada no futuro, e até onde a cantautora assim determinar.