Ao terceiro disco, os Beautify Junkyards embrenham-se ainda mais nos bosques arcaicos da sua folk outonal, num álbum coeso mas ao qual falta surpresa e evolução face aos registos anteriores.
Os portugueses Beautify Junkyards começaram em 2013 a desenhar a sua identidade. Primeiro inocentemente, a pouco e pouco, com o disco de estreia a apostar em covers que foram submetidos ao tratamento Junkyard: folk pastoral com toques de outono, xamanismo, libertação e introspecção. O salto em frente deu-se dois anos mais tarde, com The Beast Shouted Love, já com mais certezas e apostando em material próprio.
Agora, a banda que nasceu da indefinição dos Hipnotica chega ao terceiro disco, e o primeiro pela prestigiada editora britânica Ghost Box, conhecida pela apertada malha que usa para escolher os seus artistas.
Este The Invisible World of Beautify Junkyards quase pretenderia funcionar como uma apresentação, se atentarmos no título escolhido. Na verdade, não há muita novidade aqui face aos registos anteriores, nomeadamente ao segundo álbum. A mudança mais sensível é a progressiva introdução das electrónicas, em efeitos e percussões, fazendo a ponte para a história mais longínqua dos Hipnotica. Ainda assim, estas incursões são sempre subtis, deixando à voz e à guitarra acústica a condução dos trabalhos.
Como é familiar nos Beautify Junkyards, o tempo aqui é lento e outonalmente opressivo. Temos menos “latinidade” e mais “britishness”, se pensarmos em bosques ainda húmidos das chuvas. E druidas à volta de Stonehenge, em vez de garotas de Ipanema.
O disco, também pela ligação à Ghost Box, tem vindo a ser muito bem recebido em Inglaterra. E, de facto, quem pela primeira vez contactar com os Beautify Junkyards através deste disco, dificilmente não ficará com a sensação de que descobriu um belo tesouro: imersivo, circular como os ciclos da Natureza, arcaico e intemporal ao mesmo tempo.
Para nós, que temos acompanhado de perto a sua carreira, esta terceira pedra na estrada dos Beautify Junkyards já não impressiona assim tanto. Se o grupo tem a assinalável qualidade de ter criado uma sonoridade muito própria (algo que não é de todo fácil nos dias que correm), também não deixa de se sentir a ausência de um qualquer elemento de surpresa. Quase como se a personalidade sonora da banda se tivesse tornado tão forte que parece um daqueles filtros do Instagram que tornam todas as fotos parecidas. O que sobra aqui em coesão e numa experiência imersiva de entrar num outro mundo, falta em surpresa, em risco, e até numa desejável maior definição das canções, enquanto obras individuais (o que, provavelmente, nem é o objectivo). As excepções vêm, curiosamente, das poucas músicas cantadas em português, que talvez por serem numa língua diferente fogem ao manto opressivo e repetitivo da maioria do disco (que nos parece também demasiado longo).
The Invisible World of Beautify Junkyards é provavelmente a melhor porta de entrada para aqueles que não conhecem a banda, e certamente não desilude quem está já conquistado pela sua voz. Já quem esperava saltos em frente, poderá ficar desiludido pela continuidade deste trabalho.