O incansável menino-prodígio do garage californiano lança o seu segundo álbum duplo, uma amálgama de estilos e géneros que dispara em todas as direções apesar de nem sempre acertar.
Com 10 anos de carreira atrás de si, Ty Segall é já um veterano do garage rock da costa oeste dos Estados Unidos. O músico de Laguna Beach conta com 11 discos (este é o décimo-segundo) em nome próprio para além dos seus outros projetos, como os Fuzz, GØGGS, Perverts e inúmeras colaborações com Mikal Cronin e White Fence. O último fruto desta prolífica carreira é um trabalho esquizofrénico em estilos musicais e ambicioso em duração.
O cartão de visita é “Fanny Dog” uma homenagem ao rock sulista dos anos 70 com direito a uma secção de sopros e um solo de guitarra à medida. O funk radioativo de “Despoiler of Cadaver” traz ao disco alguma frescura e assegura-nos que em pleno 2018, Ty Segall ainda consegue escrever clássicos. “When Mommy Kills You”, entre outras, lembram-nos que isto é um álbum de Ty Segall, mas a fórmula está gasta e, num disco tão progressivo como este, não há espaço para rock tão genérico. “My Lady’s on Fire” abranda o ritmo com um refrão orelhudo e um solo de saxofone romântico e Springsteeniano que, se tocado em concerto, há de gerar certamente muitos isqueiros, isqueiros esses que incendiarão o ar ao som dos acordes flamejantes de “Alta”, canção na qual Segall equilibra perfeitamente o seu lado ligeiro com as suas tendências mais pesadas.
Em cada canto deste novo trabalho há uma surpresa, nem sempre agradável: “Talkin 3” é uma tentativa falhada de fundir hardcore punk e free jazz e a narcoléptica “Rain” é uma balada insípida com um refrão dissonante e um acompanhamento de piano demasiado rudimentar. Por outro lado, “You Say All the Nice Things” flirta desavergonhadamente com o country e mostra-nos mais uma faceta do músico californiano que não tínhamos visto até agora. No outro lado da moeda está “The Last Waltz” cujo título (que faz referência ao filme que documenta os últimos concertos dos The Band) é a única coisa que merece menção.
O espectro dos Black Sabbath impregna “She” e confere-lhe o seu peso colossal e um heróico solo de guitarra que peca apenas por não ser mais longo. “The Main Pretender” e “5 Ft. Tall” são dois hinos que nos fazem perguntar o porquê da ausência de canções deste calibre nos dois últimos álbuns. Finalmente, o disco é fechado com “And, Goodnight”, um épico à moda de Neil Young sem nunca atingir os mesmos picos, visto que Segall, sendo um guitarrista extremamente competente, não possui a técnica e/ou o vocabulário musical necessários para se dar ao luxo de tocar solos tão extensos.
Freedom’s Goblin é um daqueles álbuns difíceis de classificar. É frustrante pensar no quão melhor poderia ser se tivesse havido uma seleção mais cuidada do material. Há aqui um álbum muito bom no meio de demasiado entulho genérico e experimentação sem propósito. Mas nem toda a experimentação é falhada e nos momentos em que Ty Segall sai da sua zona de conforto sem sair dos eixos, os resultados são triunfantes.