Quase dois anos depois do inicialmente previsto e com dois álbuns para promover, os Metronomy apresentaram-se em Lisboa em perfeita forma, provando que valeu a pena a espera.
Os Metronomy foram uma das primeiras bandas a sofrer os efeitos da pandemia COVID-19. Tendo lançado Metronomy Forever em 2019, tinham uma extensa tour agendada para promover o novo disco no ano seguinte, tour essa que incluía uma passagem por Lisboa em março. Não foram poucos os artistas que se limitaram a cancelar os seus espetáculos e a devolver o dinheiro dos bilhetes, mas os Metronomy reagendaram, e reagendaram e reagendaram outra vez, ao sabor das várias vagas da pandemia a que fomos assistindo. E ainda bem! Ontem finalmente, quase dois anos depois do inicialmente previsto (Joseph Mount agradeceu aos fãs portugueses não se terem esquecido dos seus bilhetes) e com um novo álbum na manga para promover (lançaram Small World em 2022), os Metronomy apresentaram-se bem-dispostos e, sobretudo, em perfeita forma em Lisboa, perante um Coliseu dos Recreios cheio e tornaram-se oficialmente candidatos ao prémio de banda mais resiliente da pandemia.
A primeira parte ficou a cargo de Grove, jovem artista de Bristol cheia de energia e de entusiamo por tocar numa sala tão grande, mas pouco mais do que isso. Fez um bom trabalho a aquecer o público, que dançou timidamente ao som das suas batidas um pouco fora do sítio numa sala como o Coliseu, mas não demorou a ser esquecida mal entraram em palco os anfitriões da noite.
Às 22h o palco estava pronto e o público também, todos ansiosos por ver finalmente a banda britânica. Estes entraram animados e não perderam tempo, abrindo com “Love Factory”, tema do álbum mais recente. Percebemos rapidamente que, apesar do pretexto para o concerto ser mostrar ao vivo os dois novos trabalhos, os hinos mais antigos e mais queridos do público não seriam descurados, aparecendo intercalados com as novidades, num equilíbrio muito bem gerido logo desde o início. Os bem conhecidos “The Bay”, “Corinne”, e “Reservoir”, que arrancou a primeira reação mais emocionada da parte do público, seguiram-se. Foi só no fim desta série que o frontman Joseph Mount parou para assinalar o quão felizes estavam de estar finalmente de volta aos palcos (“We were supposed to be here with you in 2019? 2020? But we’re here now!). Esta nota positiva encaixa na perfeição (o que não será por acaso) com os títulos dos dois singles de Small World que se seguiram: “It’s good to be back” e “Things will be fine”. Estes, não despertando a mesma reação que as canções de English Riviera ou Love Letters, tiveram ainda assim uma receção entusiástica, provando que os fãs portugueses fizeram o trabalho de casa.
Ouvimos ainda “Everything Goes My Way”, em que Anna Prior assume os vocals com maior destaque, e a mais antiga “Holiday”, do álbum Nights Out de 2008, que teve direito a uma quase coreografia no refrão, estilo vídeo do TikTok à frente do seu tempo. Anna agradeceu em português e Joseph Mount não deixou de fazer referência ao amor de Anna por Lisboa, que trocou Londres pelo nosso sol (“grande perda para Inglaterra, mas um enorme ganho para Portugal”).
A festa prosseguiu, sem grandes pausas, para gáudio do público e da banda. Depois de tanta espera não há tempo para pausas, queremos dançar. O som dos Metronomy é tão bom ou melhor ao vivo do que nas gravações em disco, e o Coliseu dos Recreios, nobre sala de concertos, só ajudou a potenciar isso mesmo, criando a atmosfera perfeita com os ingredientes que os Metronomy já têm naturalmente: as vozes límpidas de Joseph Mount e de Anna Prior, os teclados pop e o baixo gingão de Olugbenga Adelekan. Ficou claro que estão em grande forma, não fossem eles já quase veteranos destas lides.
Seguiram-se algumas canções de Metronomy Forever, incluindo o hit radiofónico “Salted Caramel Ice Cream”, e de Small World, após as quais Joseph Mount parou para afinar a guitarra, em jeito de calma antes da tempestade: “não posso tocar esta próxima canção com a guitarra desafinada”. Tratava-se de “The Look”. O coliseu reagiu de imediato aos primeiros acordes do órgão. Saltámos, dançámos, cantámos em uníssono letras e instrumentais, até o chão tremeu num belo momento de comunhão daqueles que só acontecem em certos concertos especiais e que já não experimentávamos há algum tempo. No fim o público continuou a entoar o riff e Joseph Mount perguntou se não poderiam tocar em Lisboa todas as noites da tour (deve dizer isso a todos, mas ainda assim foi bonito). Terminaram com a mais calma “The Upsetter”, do álbum Love Letters, mas não nos deixaram por muito tempo.
Chamados de volta ao palco com palmas e novamente o riff da “The Look”, tocaram ainda “Old Skool”, “Love Letters” e “You Could Easily Have Me” para acabar num crescendo de guitarras barulhentas e luzes, quase a pedir um moche de despedida.
Terminou assim a muito aguardada festa dos Metronomy, um regresso muito apreciado tanto pelo público, que começa agora a voltar a ir a concertos normalmente, como pela banda, que regressa finalmente a fazer aquilo que faz melhor. Com respirações e pontos altos nos momentos certos, os Metronomy guiaram-nos, na hora e meia que durou o concerto, pelos principais momentos da sua já longa e relevante carreira, dando-nos a conhecer, ao mesmo tempo, o que de mais interessante encontramos nos seus novos trabalhos e confirmando que o nome que escolheram dar ao seu disco de 2019 não vem a despropósito. Metronomy Forever!
Fotografia: Inês Silva