Love Letters chega com uma missão ingrata: suceder a The English Riviera, um disco quase perfeito.
Com esse álbum, de 2012, os Metronomy subiram a parada e qualquer coisa que viesse depois seria sempre olhada com desconfiança. Foi precisamente isso que aconteceu com Love Letters, 4º disco da trupe inglesa. Mas não é por isso que este álbum não merece o nosso carinho e atenção. Aliás, é precisamente por isso que requer atenção redobrada, porque precisa de ser descoberto a fundo. Pode custar a entrar, mas acaba por se entranhar.
Ao princípio, em Dezembro passado, conhecemos o primeiro single “I’m Aquarius”. Depois de “The Bay” ou “The Look“, “I’m Aquarius” deixa-nos insatisfeitos. Uma batida electrónica minimalista, teclados lânguidos, uma toada morna que nunca chega a aquecer… e queremos mais.
Em Janeiro eles libertam “Love Letters” e a esperança renasce. Esta não é só a melhor música do disco, é uma das melhores músicas do ano. Explosão de piano com ares de saloon do princípio ao fim, coros à girl groups Motown, um groove de baixo incrível e a voz de Joe Mount a puxar a carroça. Agora sim, estamos prontos para receber o disco, que é lançado em Março.
Buscamos as irmãs de “Love Letters” mas percebemos que ela é filha única. Raios. Mas já que aqui estamos, ouçamos até ao fim. Porque sabemos que Joe Mount é um génio da melodia. É capaz de criar a mais harmoniosa composição com um fósforo a bater numa pedra. Seja qual for o seu estado de espírito ou os utensílios que tem à mão, sabemos que dali virão sempre melodias fantásticas.
E com isto em mente deve ouvir-se Love Letters do princípio ao fim. Assim concluímos que este disco é a soma e mistura dos três anteriores. Os dois primeiros, Pip Paine (Pay The £5000 You Owe), de 2006 e Nights Out, de 2008, são mais discos de produtor, Joe Mount a brincar com os instrumentos, muitas músicas instrumentais, mais rudes e electrónicas, mas já com a riqueza melódica que reconhecemos em Mount. The English Riviera deu o salto, já com banda completa, é um álbum de canções, todas fenomenais, extrovertidas, com grandes ritmos e fraseados que não mais saem da cabeça.
Love Letters combina esses universos. Tem grandes canções de candura pop e momentos mais introspectivos. Busca frequentemente uma base mais electrónica, com teclados e sintetizadores sempre presentes, mas também com salpicos de guitarras acústicas (“The Upsetter”), cravo (“Mounstous”) ou guitarra eléctrica (“Month of Sundays”). Para sintetizar o trabalho dos discos anteriores, o instrumental “Boy Racers”. E tudo é simples, tudo é eficaz, e quando se chega ao fim do disco, os fantasmas do princípio desapareceram. E percebemos que estamos perante um excelente disco. Precisa só de ser manuseado com cautela, uma vez dado o tratamento adequado, rendemo-nos novamente à trupe de Joe Mount.
Os Metronomy já tocaram em Portugal, no Alive de 2012, e deram um dos melhores concertos desse Verão. Já têm nova viagem marcada (tocam no SBSR dia 17 de Julho), prometem trazer ao palco um espectáculo ainda mais grandioso. É naturalmente um concerto a não perder!