Considerado um dos marcos da contra-cultura dos anos 60, Forever Changes está sempre à espreita quando se fala dos grandes discos de sempre e em particular da década em que foi criado. Isto muito por culpa não só da própria do aspecto dos Love (uma das primeiras bandas multi-raciais a par de Sly & the Family Stone), mas também pelo próprio som peculiar que o grupo imprimia aos seus discos.
Em abono da verdade os Love não soam, nem nunca soaram como mais ninguém. Com as suas origens nos rhythm and blues, o grupo abrangia outras áreas como o jazz, a folk, o country , sempre regados com melodias pop de garagem (geniais) saídas da imaginação de Arthur Lee e com uma pitada de alma psicadélica muito em voga em 1967.
Apesar de já terem dado algumas grandes passadas no predecessor Da Capo, é com Forever Changes que o grupo atinge a maturidade criativa. Dotado de melodias irresistíveis ao nível de um McCartney ou de um Brian Wilson, Arthur Lee tinha em Bryan McClean o co-piloto perfeito para dar um colorido especial aos Love. Aliás é desta parceria que nascem algumas das melhores de Forever Changes. A começar por “Alone Again Or” uma canção que poderia ser perfeitamente dos Buffalo Springfield, se estes tivessem paciência para tocar com uma orquestra de Mariachis. Um clássico absoluto que foi copiado ao longo dos anos por gente tão díspar como Sarah Brightman, The Damned ou Calexico.
Segue-se “Andmoreagain”, outra pérola da dupla Lee/Mclean com arranjos orquestrais (cortesia do maestro David Angel) delicados e guitarras acústicas herdeiras da tradição da então “nova folk” instituída por Baez e Dylan.
Mas não se pense que os Love desaceleravam o seu som e se tornavam “softzinhos”. O grupo continuava na luta, juntamente com os colegas de editora, The Doors, por serem das bandas mais anti-establishment que L.A. já produzira. Em títulos mais eléctricos e ácidos como “A House is Not a Motel” ou “Bummer in the Summer” o grupo continuava a fazer o seu rock n’ roll mordaz e intrigante.
Apesar dos bons esforços, a banda estava a desintegrar-se. As saídas do teclista Alban Pfisterer e do saxofonista Tjay Cantrelli deixaram brechas difíceis de superar. Com a chegada das drogas e o desinteresse em continuar a gravar, não deram alternativa ao produtor Bruce Botnick em utilizar músicos de estúdio (externos à banda) para acabar o disco. Porém, “Lee e companhia” ficaram tão enojados pelo trabalho dos “session players” que decidiram começar do zero e convencer Botnick e a editora a serem eles próprios a gravar Forever Changes.
Os resultados foram melhores que o esperado, oiça-se o beatlesco “The Daily Planet”; o negro “Live and Let Live” ou o falso romântico “The Red Telephone” para se perceber que o resto do disco seria muito forte.
A finalizar “You Set the Scene”, um clássico perdido dos anos 60 e com alguns contornos de rock, ragas indianas e jazz. Enfim, há aqui mais que pretextos para ouvirmos este disco muitas vezes sem nunca nos fartarmos. Ele não é nem indie, nem rock, nem pop, nem jazz, é simplesmente Forever Changes, um dos melhores discos de sempre da história a par de Sgt. Pepper ou Pet Sounds. Obrigatório!
Grande Álbum! Grande Arthur Lee!