Na atenção que dedicamos aos novos sons do rock contemporâneo brasileiro, já fomos a Paraty, já nos demorámos na gostosura microcósmica de Goiânia, chegamos agora ao Rio de Janeiro. Para vos falar de Lê Almeida, que acaba de lançar um disco que, apostamos, nos vai acompanhar nos próximos meses.
Lê Almeida, nascido num subúrbio do Rio de Janeiro há cerca de 30 anos, traz-nos uma matriz pouco exótica para um brasileiro. O seu campeonato é o rock de inspiração norte-americana. Pelo som que faz, apostamos que cresceu a ouvir o furacão grunge, discos de Sonic Youth, Smashing Pumpkins ou dos Pixies, tal o cruzamento certeiro que faz entre o noise e o sentido pop. Em termos brasileiros, a referência distante que podemos apontar são os óptimos e infelizmente desaparecidos Charlie Brown Jr.
O disco que nos traz aqui é Paraleloplasmos, acabadinho de editar, e é apenas o seu segundo. Não é preguiça ou lentidão. Almeida é um trabalhador: tem um estúdio caseiro aberto à comunidade lo-fi do Rio, tem uma pequena editora, toca em várias bandas e é artista plástico, sendo da sua autoria a fantástica capa deste disco.
Paraleloplasmos pode e deve ser o disco da sua afirmação. São 12 temas eléctricos, nos quais Lê Almeida toca praticamente todos os instrumentos. A sua voz não é particularmente marcante e surge quase sempre submersa entre torrentes doces de guitarra. A sonoridade mais evidente que nos vem à memória é o estilo de composição de J Mascis, o talento por trás dos Dinosaur Jr, pela melancolia eléctrica na construção das músicas.
Em suma, rock do bom pontuado de noise, shoegaze e pop, cantado em português.
Mais uma pérola do Brasil a pedir mais atenção em terras lusas.