Adoro música e adoro uma boa história. O disco que agora vos trago junta as duas coisas.
Primeiro a fabulosa versão “oficial” da coisa:
O alemão Martin Zeichnete vivia em Berlim Oriental no início dos anos 70. Músico amador, aficionado da tecnologia e corredor nas horas vagas, ouvia ilegalmente, à noite, as estações de rádio do lado Ocidental, que lhe traziam os sons do que viria mais tarde a chamar-se Krautrock: Kraftwerk, Neu! e Cluster, por exemplo. Inspirado nesses sons, foi fazendo experiências caseiras com fita. Um dia, mencionou aos seus colegas de trabalho que os sons em que trabalhava podiam ser utilizados no treino dos atletas do bloco soviético, uma vez que a música repetitiva, acreditava ele, se adequava bem ao treino e ao ritmo necessário.
Pouco tempo depois, foi metido num carro da polícia secreta, levado para um campo de treinos de atletismo nos arredores de Berlim e começou aí uma nova vida, com uma missão: desenvolver música que elevasse o treino dos atletas até ao próximo nível. E foi isso que Zeichnete fez, com recurso a instrumentos tradicionais, máquinas de fita e alguns sintetizadores soviéticos (aparentemente pediu um Moog, mas não lho deram). O programa durou até 1983 e, sendo as fitas propriedade do Estado, Zeichnete não poderia retirá-las. Mas foi o que fez. Para além disso, um outro engenheiro do projecto também trouxe algumas cassettes, que foram transferidas para digital no final dos anos 90.
E são essas músicas que, agora, chegam a CD, e ao mundo.
E agora o cinismo:
Há quem diga (como a Spin), que há boas hipóteses de isto ser tudo treta. O nome de Martin Zeichnete é desconhecido, surgindo apenas associado a esta compilação. O som é demasiado límpido para ter sido transferido de cassetes mal acondicionadas durante tanto tempo. E a música é demasiado boa (!), demasiado polida, parecendo mais um fantástico álbum de krautrock do que efectivamente “música repetitiva para treino de atletas”.
Eu não sei o que é verdade, mas escolhi acreditar na romântica primeira versão. Mais importante que isso tudo, como sempre, é a música. E esta é de primeira água. Na minha opinião, ao nível do melhor Can ou Neu!, um pouco menos “pop” que Kraftwerk. Música hipnótica, ritmada, imaginativa, espacial. “Kosmicher Läufer – The secret cosmic music of the East German Olympic Program 1972-1983, vol I”, é um belíssimo disco. Ah, e vai haver prensagem em vinil (ium!) mas limitadíssima.
Façam como eu. Embarquem na história, metam os phones e deixem a cabeça correr. De Berlim para o espaço.
é belo som!
Space is the place! Eu também gosto e tenho. I’m a krautrocker dude.