Kim Fowley faleceu em janeiro último, aos 75 anos de idade, e este International Heroes (1973) vive há já quatro décadas (42 anos, mais mês, menos mês) como se o tempo não passasse por si. Ouvindo-o recentemente, como o ouvi repetidas vezes antes e durante a feitura deste texto, percebo que está de ótima saúde, e que se recomenda vivamente. Não sendo eu um perito na avaliação da obra do artista americano, escolhi este álbum para constar no post de hoje do vosso Altamont por razões que me parecem razoáveis e fáceis de perceber. A primeira tem a ver com o facto de ser o disco que dele prefiro, mesmo sabendo que os mais experts possam optar por escolher outros álbuns, como Outrageous (1968) ou Love Is Alive And Well (1967), por exemplo. A segunda prende-se com outra simples circunstância, que é a deste International Heroes ser acessível a qualquer ouvido, embora não tão imediatamente assim, ou seja, sem se deixar cair em facilitismos que, a acontecerem, inquinariam a minha escolha imediatamente. A terceira, também esta bem substantiva, é que ao ouvi-lo, ouço também ecos de glam sem grande espalhafato, glam mais contido, algum folk-rock, e até ressonâncias de Bob Dylan na voz de Fowley, sobretudo na forma de arrastar o canto. Lembra-me ainda Hunky Dory, de Bowie. Tudo boas razões, portanto, para o recordar.
As 10 canções de International Heroes são francamente agradáveis de ouvir, e quando me predisponho a dar-lhes efetivamente alguma maior atenção, percebo ainda melhor o seu encanto. E por isso, depois do que referi no parágrafo anterior (com o tal acréscimo atencioso que mencionei) sou também capaz de encontrar, por alguns dos temas do disco, um pouco de Stones (o tema “Dancing All Night” serve bem como exemplo), de Bolan (em “Born Dancer”) e até resquícios de Procol Harum, como me parece acontecer em “I Hate You”. Na verdade, e para além das ótimas canções referidas, todas as restantes são bastante interessantes, e algumas delas ficariam bem como hits que, de facto, nunca chegaram a ser. “Ugly Stories About Rock Stars And The War”, “E.S.P. Reader” e “International Heroes” poderiam ter feito sucesso, mas o destino assim não quis. Foi pena. São fortes, ternas, prazerosas até às respetivas medulas musicais. Outro bom exemplo é “World Wide Love”, dylanescamente bela e apetitosa, com coros a rigor e tudo. Tivesse nascido das cordas da guitarra de Bob Dylan, e teria percorrido outro caminho…
International Heroes poderia ter sido um enorme sucesso, mas ficou na história como uma espécie de triunfo mediano, digamos assim. Rodeado de excelentes e muito coesos músicos (Kerry Scott e Glen Turner nas guitarras são fantásticos), Kim Fowley soube ter arte suficiente para deixar de lado alguma da sua desmedida excentricidade, dedicando-se a criar um fantástico lote de canções, mostrando assim capacidades composicionais de inegável valia.
Uma última referência ao disco, apenas para mencionar as suas capa e contracapa. O make up facial de Fowley não deixa dúvidas acerca da década em que foi feito, sendo que no verso já não é apenas a cara do artista a estar em evidência, mas o corpo todo. Kim Fowley aparece com um casaco de peles por cima de uma t-shirt onde se pode ler a expressão space age, calçando uns heeled shoes de fazer inveja a qualquer rei do período glam. Talvez sejam estas as únicas verdadeiras características datadas de um disco que me parece intemporal, mas que no entanto se afundou no esquecimento do tempo. Talvez agora, com o falecimento recente do artista, alguém pegue em International Heroes e lhe dê uma edição em CD, coisa que até à data me parece não existir. Se o fizer também em vinil, uma vez que o mercado crescente das rodelas negras tende a afirmar-se cada vez mais, os meus parabéns serão duplos. Resta-me esperar, e fazer figas em ambas as mãos.