Asas e Penas é o primeiro disco de Jorge Palma onde o piano clássico tem um lugar especial. As gemas “Estrela do Mar” e “Canção de Lisboa” espelham essa influência erudita.
Jorge Palma fora pai, assentando um pouco, tanto quanto é possível ao nosso boémio favorito assentar. Aproveita para retomar os seus estudos de piano no conservatório, interrompidos na roqueira adolescência. Asas e Penas é o primeiro disco de Palma a reflectir essa reconciliação com a música clássica. A etérea e ondulante “Estrela do Mar” foi influenciada por Debussy, daí o seu sofisticado arranjo pianístico, talvez o mais elaborado em toda a obra de Palma. “Canção de Lisboa” rouba uns compassos pesarosos à primeira Sinfonia de Mahler, bem adequados à devastação emocional do tema – um grito de desespero na noite funda, vomitando asco contra a banalidade circundante. “Missa dos Pássaros” tem um arranjo coral erudito, orquestrado pelo mestre José Mário Branco.
Babado com o nascimento do seu filhote, Jorge Palma dedica-lhe “Castor”, um instrumental ao piano terno e singelo, que abre justamente com o choro do pequeno Vicente.
Mesmo as canções menos conhecidas são bonitas, como o film noir de “A Origem do Drama” ou o jazz melancólico de “Lamento de um Traidor”.
Neste belíssimo disco tudo flui naturalmente, como se os dedos e a voz tivessem ‘asas e penas’. Infelizmente, ainda não foi desta que a editora apostou na promoção. Mais um triunfo criativo em que ninguém repara; de derrota em derrota, até à vitória final…