Os Interpol tocaram esta quinta-feira, 16 de fevereiro, no Lisboa ao Vivo, um concerto na sala certa, com o ambiente certo e com o alinhamento certo.
Objectivamente, os Interpol quase nunca dão bons concertos. Porque a intensidade e densidade que tão bem caracteriza as suas canções nos discos tende a perder-se quando são tocadas ao vivo. Em parte por causa da banda – nem todas o conseguem fazer, é a realidade – mas também por causa das salas ou eventos onde tocam. Por exemplo, já os vimos tocar no Coliseu de Lisboa, há já muitos anos, e deram um concerto impecável (e até memorável para alguns). Mas também já os vimos tocar no Campo Pequeno ou em festivais e a coisa não resultou, pelo contrário.
Mas, em 2023, quem ouve Interpol são, maioritariamente, os fãs de longa data. É que, gostemos ou não de encarar a dura realidade, o primeiro álbum dos Interpol já tem 21 anos. E, portanto, eles não parecem querer saber se, objetivamente, dão maus concertos, caso contrário, o concerto de ontem no Lisboa ao Vivo, não estaria esgotado. O que os fãs querem, sendo fãs, é mesmo ouvir ao vivo as músicas que gostam, sem artifícios, e sair de lá mais ou menos felizes. Porque umas vezes corre melhor e outras pior.
Ora, esta quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023, os deuses dos concertos alinharam-se para os Interpol. Não foi um concerto brilhante mas foi, sem dúvida, um dos melhores. Ajudou o ambiente criado. Em cima do palco havia pessoas, mas só se viam vultos e sombras, nunca as caras, sempre escondidas atrás de um impecável jogo de luzes. Ajudou, e muito, o espaço. O Lisboa ao Vivo é a sala com o tamanho e a envolvência ideal para os Interpol de hoje, em que quem vai aos seus concertos são os tais fãs de longa data. E ajudou o alinhamento. Num concerto de hora e meia com 19 canções, cinco eram do álbum novo, The Other Side of Make Believe, de 2022; uma era do disco anterior, Marauder de 2018; mais uma de El Pintor (2014) e outra de homónimo Interpol, de 2010. Tudo o resto foram temas dos primeiros álbuns – Turn On the Bright Lights (2002); Antics (2004) e Our Love to Admire (2007).
E não há mal nenhum em basear um concerto no passado quando esse passado é bom, ou mesmo o melhor. Foi nesse passado que, tal como muitas das outras bandas indie que surgiram pela mesma altura como os Strokes ou os Yeah Yeah Yeahs, os Interpol se afirmaram como uma banda com um som único, ainda que cheio de influências reconhecíveis. Um estilo que conseguiram manter ao longo de 20 anos, mas com menos pujança, porque são poucas as bandas que conseguem fazer bons discos a vida toda. Ainda assim, os temas do novo álbum resultaram bem ao vivo, apesar de se notar uma clara diferença no baixo, agora que o antigo baixista saiu da banda.
A única nota negativa, que nem sequer é bem isso, é mais um desabafo de boca cheia, é que mesmo sendo um desfilar de hits encadeados com temas novos, faltaram algumas canções, como “NYC” ou “Stella Was a Driver and She Was Always Down” ou “The Lighthouse”. Mas já diz o ditado, não se pode ter tudo. E ainda bem que não.
Aqui fica a setlist:
Toni
Evil
Fables
C’mere
Narc
Pioneer to the Falls
Into the Night
Obstacle 1
Passenger
My Desire
Rest My Chemistry
If You Really Love Nothing
Roland
Mr. Credit
The New
Slow Hands
Encore:
Lights
No I in Threesome
Not Even Jail
fotos: Inês Silva
os interpol davam grandes concertos na época de 2002-2005, 2010-2014, e este no LAV foi incrivel. Hater.
Esqueceu de falar sobre o horrível som que tem esta “nova” sala lisboeta. Trabalho no meio,já assisti a centenas de concertos e raramente ouvi uma qualidade de som tão má.
PA velho e pouco adaptado aquela sala acho…
De resto uma grande banda que merecia melhores condições.