Turn On The Bright Lights, dos Interpol, é um produto da melancolia e desilusão, marcado por um timbre barítono e um estilo sofisticado.
De todas as formas de arte, a música é a única capaz de nos transportar para um determinado lugar e para um tempo específico da nossa vida que pode ter sido bom, mau ou assim-assim. Basta carregar no play de uma canção fundamental para sentirmos instantaneamente o que sentíamos quando a ouvíamos e recordarmos precisamente com quem a ouvíamos. Como viajar e voltar sem sair do mesmo sítio, e sem os inconvenientes do planeamento e os aborrecimentos das despedidas. Basta carregar no stop que o transe acaba.
A “Untitled” é uma dessas canções. Reparem: tem duas linhas de texto (e creio duas variações sobre as mesmas), uma linha de baixo poderosa e uma bateria que a sustenta, uma guitarra em tons quasi épicos que duram quase quatro minutos – e no entanto sou imediatamente transposto para 2002 e 2003, para o pós-9/11 e para um dos momentos mais extraordinários da história da música pop/rock. Obviamente, o indie rock.
O Turn on the Bright Lights, dos Interpol, é um grande álbum que tem a particularidade de arrancar em grande, com uma sequência de três músicas (“Untitled”, “Obstacle 1”, “NYC”) que caraterizam o som desta banda. Ao contrário de outros da cena neo-punk rock nova-iorquina, os Interpol apresentavam-se com outra sofisticação que passava da simples escolha de tons escuros da roupa que usavam (e ainda usam) ao ambiente melancólico com que carregavam as suas melodias.
Menos exuberantes e muito mais subliminares do que os The Strokes, os Interpol apareceram claramente próximos dos Joy Division – o registo barítono de Paul Banks é bastante próximo do de Ian Curtis – e a mensagem que passavam não era a da revolta contra sistemas injustos, mas de nostalgia, desolação, desilusão e desesperança cortadas por um otimismo moderado. É ler “I know you’ve supported me for a long time/ Somehow I’m not impressed/ But New York Cares”, da “NYC”, e entender o que queriam eles cantar.
O álbum Turn On The Bright Lights, embora tenha oscilações rítmicas, uma vezes mais punk outras mais rock outras ainda quase dançável, é um produto acabado do início dos anos 2000 que entra para a galeria dos notáveis de uma era que produziu algumas das melhores canções que ouvi. Vale a pena carregar no play.