Inglaterra, pátria dos Smiths, dos Blur, dos Stone Roses, dos Pulp e de tantas outras coisas boas. A quantidade de boas e marcantes bandas vindas da grande ilha é impressionante, e de todos os estilos. No entanto, nada marcou tanto a identidade musical das suas últimas décadas como o pop-rock de guitarras, cuja tradição vem desde o início dos anos 80, com um ‘track-record’ espectacular. No entanto, com a fragmentação de estilos e de influências, há quanto tempo não somos presenteados com uma banda digna de carregar a tocha dessa fantástica tradição, a das canções pop-rock com tudo no sítio? Bom, provavelmente desde a estreia dos entretanto esquecidos Vaccines. Até agora.
Há um ano falávamos aqui de uns garotos acabados de lançar o disco de estreia, Highest Point in Cliff Town. Então, desfizemo-nos em elogios e deixámos no ar a questão sobre se seria um fogacho ou se estaríamos perante a “next big thing” da pop britânica.
Um ano depois, os Hooton Tennis Club (HTC) servem-nos segunda dose, e voltam a vencer e a convencer. Estará aqui a resposta? Muito provavelmente. Enquanto os Sundara Karma – outros putos bem promissores – andam estupidamente a lançar EP e singles e não conseguem editar um álbum, os HTC já vão no segundo em dois anos. E dois tiros bem dados.
O novo disco foi produzido por Edwin Collins, mas não há uma diferença extraordinária no som. Voltamos a ter um conjunto de belíssimas canções que nos vão obrigando a ouvir uma e outra vez (há refrões e linhas de guitarra excitantes, tão bom). As letras continuam interessantes e com um twist literário que dá espessura aos temas.
As diferenças face ao disco de estreia estão talvez num menor imediatismo, menor energia juvenil, que é claramente compensada com músicas mais trabalhadas, que levam mais tempo a chegar ao ponto, mas que chegam sempre.
“Growing Concerns”, que abre o disco, mostra-nos logo ao que os rapazes vêm: aquela belíssima guitarra à John Squire e um ritmo menos acelerado do que há um ano. “Bootcut Jimmy the G” é ‘jangly’ até mais não, com mais um óptimo e curto solo ao serviço da música, apresentando mais uma das personagens que os Hooton Tennis Club tão bem sabem criar.
“Bad Dream (Breakdown on St. George’s Mount)” é outra delícia, como se os Blur tivessem procriado com os Stone Roses. “Katy-Anne Bellis”, o single de avanço, é uma pérola pop, feita de simplicidade e beleza. Já “O Man, Won’t You Melt Me” leva-nos aos tempos dos saudosos Pulp – Ryan Murphy não tem o carisma vocal de Jarvis Cocker mas estudou a sua forma de compor – em mais um hino.
E com isto estamos a meio do disco, e já com cinco malhas de primeiríssima divisão. A segunda metade não consegue sempre manter a pedalada, mas este é um álbum com muito poucos ‘fillers’. Destacamos ainda “Lazer Linda”, o tema mais acelerado de Big Box of Chocolates (título um bocado a atirar para o fatela, convenhamos).
Chegamos ao fim com a vontade de carregar de novo no play, e isso diz tudo. A Britpop está bem viva com os Hooton Tennis Club, que fazem tudo com uma naturalidade e uma ausência de esforço que poderia soar a displicência. Não é o caso. São quatro bons rapazes de Inglaterra, que ao segundo disco já marcaram o seu som. Se há algo que possamos pedir é que a tanta confiança se juntasse um pouco de sujidade, de raiva, de frustração, algumas nuvens no meio de tanto céu azul. Não é irrelevante lembrar que os Pulp – influência clara neste disco – tinham um drama pessoal por trás de cada hino pop.
Dêem uma trinca generosa neste Big Box of Chocolates. É bom ver os putos crescer.