Os prolíficos King Gizzard estão de volta e com eles trazem mais uma pedrada de rock psicadélico, com uma toada mais negra do que os anteriores. Tudo isto num disco construído para ser um loop infinito.
Há bandas que não conseguem estar paradas. Em apenas cinco anos os Australianos King Gizzard & The Lizard Wizard já conseguiram editar oito discos e prometem não ficar por aqui. É, de facto, muita obra. E o melhor disto tudo é que não é apenas muita parra e pouca uva. É muito sumo daqui espremido, e da melhor qualidade. Algo que só está ao alcance dos melhores. E a banda de Melbourne é-o, sem dúvida. As vezes que vieram a Portugal tiraram as dúvidas a qualquer um que pensasse que apenas eram mais uma banda da Austrália a retirar dividendos dos tubarões Tame Impala.
Se as primeiras audições de Nonagon Infinity fizeram torcer o nariz ao regresso da banda a um registo mais pesado, as audições seguintes mostraram que Nonagon é um portento de força que não poderia ser negligenciado, podendo-se até dizer que é um dos seus discos mais fortes.
Nonagon atinge-nos forte como os melhores socos de Mike Tyson no seu auge. Uma luta titânica entre a banda e o ouvinte. Esmurrando-nos a toda a hora como bombas auditivas mas nunca nos deixando cair, preparando-se sempre, sem interrupções, para nos deixar K.O, sem qualquer chance de pedir para desistir. Quando finalmente formos ao tapete não nos levantamos mais. É este o poder de Nonagon Infinity. No entanto, somos masoquistas e queremos mais, muito mais. Golpeiem-nos, atinjam-nos. Estamos sempre preparados para mais, qual Rocky Balboa contra Ivan Drago, em Rocky IV.
Após terem lançado dois discos fantásticos em 2015, cada qual no seu estilo, Quarters mais espacial e existencial, com longos solos e momentos para sentir o cosmos e tudo o que nos rodeia. Por outro lado, Paper Maché pegou na pop pastiche dos anos 60 e transportou-a para os nossos dias. Com Nonagon, os King Gizzard voltam um pouco às origens ultra sónicas e mostram que são uma banda que pode fazer de tudo. São como um comboio de alta velocidade que percorre o mesmo caminho às voltas e voltas sem nunca se cansar. Nonagon é uma espiral. É só colocar em repeat e poderíamos pensar que o disco só teria uma música. Somos consumidos por tamanha velocidade.
Nonagon é um disco negro, visível até pela própria capa do disco, ao contrário de Paper Maché que irradiava arco-íris por todo o lado. Neste comboio de alta velocidade que é Nonagon Infinity, a primeira paragem efectua-se em “Mr beat”, que é o primeiro momento de alguma acalmia do fulgor inicial, que até podia ter feito parte do disco anterior, uma tentativa de entrar alguma luz na negritude que o disco contém.
Feita a pausa para acalmar a máquina, lá voltamos nós ao combate de alta velocidade com “Evil Death Roll.” e assim por diante.
Acabamos a nossa viagem com “Road Train” à boa maneira de Hawkwind ou Motörhead. Bruta e destemida. Mas terá sido realmente o fim desta viagem tenebrosa? Tiraram a opção do repeat? Não? Então boa viagem! Vemo-nos no inferno!