Depois de procurar novos deuses, Gruff Rhys foi em busca de outros caminhos. Encontrou-os em Sadness Sets Me Free, e a verdade é que sentimo-nos muito bem a trilhá-los.
Gruff Rhys não é um nome qualquer. No mundo da música, e sobretudo para os mais atentos e curiosos, a importância deste distinto galês é óbvia. E não é de agora. Há muito que vai espalhando a sua mestria, tanto em grupo como a solo. Se recuarmos um pouco no tempo, à laia de breve apresentação do artista, será incontornável que nos lembremos dos fantásticos Super Furry Animals e da sua extensa e boa discografia. (pequeno parêntesis para sugerir a audição dos álbuns Radiator, de 1997, Rings Around The World, de 2001 e Phantom Power, de 2003). Caso não tenham presente a informação, vale a pena mencionar que os Super Furry Animals são considerados uma banda cimeira do Cool Cymru, o movimento cultural, musical e independente galês que deu ao mundo outras bandas importantes, como os saudosos Gorky’s Zygotic Mynci, de Euros Childs, ou ainda os Stereophonics, os Manic Street Preachers e os Catatonia, por exemplo. Lembrar ainda que formou a dupla Neon Neon com Boom Bip.
Em nome próprio, aquele que é merecidamente considerado como um porta voz da suas geração, já fez sair bastantes álbuns, sendo que o destaque deverá recair em Candylion (2007), Hotel Shampoo (2011), American Interior (2014) e Seeking New Gods, de 2021.
Feitas as muito sumárias apresentações, peguemos em Sadness Sets Me Free, o fresquíssimo longa duração saído este ano, a vinte e seis de janeiro. Numa primeira e necessariamente leve audição, aquilo que no álbum se ouve é de nos colocar um sorriso de agrado no rosto. Um disco equilibrado e certeiro nas suas intenções. Feita a primeira rodagem, é inequívoca a ideia: aqui há clássico(s)! Depois de várias, a mesma ideia torna-se ainda mais evidente. Bom regresso aos discos, este Sadness Sets Me Free!
Sadness Sets Me Free é um disco de contornos grandiosos, composto por várias belas canções que abrem o apetite para a primavera que já não demorará muito a chegar. A voz de quase crooner de Gruff Rhys reparte-se por canções que abrem portas à dança, mas também a uma vertente mais intimista, daí a ideia do equilíbrio já mencionado atrás. No grupo das que fazem mexer um pouco as pernas e os braços, “Bad Friend”, “Silver Lining Lead Ballons” e “They Sold My Home To Build a Skyscraper” ganham vantagem. Todas elas apresentam um dinamismo rítmico algo festivo que não deixarão ninguém indiferente. No entanto, e por outro lado, são as mais líricas e intimistas “Sadness Sets Me Free” (tão bonita, logo a abrir o álbum, e que faz lembrar, curiosamente, o universo de algumas canções dos Gorky’s Zygotic Mynci), “Cover Up The Cover Up” e “I Tendered My Resignation” que poderão fazer as delícias de um nostálgico final de tarde de copo na mão, e na outra uma outra ainda, entrelaçada. A meio caminho dos dois grupos de temas mencionados, as muito bonitas “Celestial Candyfloss” e “Peace Signs”. Feitas as contas, seria justo que deste lote saíssem como clássicos os temas “Celestial Candyfloss” e “Sadness Sets Me Free”. Algumas das letras de Sadness Sets Me Free são pesadas, mas o interessante é a forma algo esbatida (e por isso mais leve) do tratamento lírico a que são sujeitas.
Uma última nota para louvar a frescura de Gruff Rhys, que se vai reinventando a cada passo. Feitas as somas por alto, já são mais de vinte os álbuns que concretizou. A solo, mais até do que com os seus Super Fury Animals, Gruff Rhys dificilmente repete a fórmula, até porque isso poderia querer dizer que já a havia encontrado. Nós, pelo que conhecemos dele, julgamos que continuará a arriscar caminhos para tudo o que ainda terá para nos dizer, e estamos crentes que o futuro nos dará razão.