Mais um belo projecto fruto de pandemia, Olhos de Cetim é a estreia dos Fumo Ninja em disco. Urge descobri-los.
Norberto Lobo, um dos mais prolíficos guitarristas da nossa praça, continua a criar belos recantos sonoros. Para lá da sua carreira a solo são vários os projectos onde participa ou participou, casos de Tigrala, Chão Maior, Montanhas Azuis, colaborações com João Lobo, cada um com a sua especificidade e critério musical diferente. Agora chegam-nos os Fumo Ninja, com uma importante inovação – Norberto assume neste grupo o papel de baixista. Convocou para o mesmo alguns parceiros dos Chão Maior, o grande Ricardo Martins para a bateria (Jibóia, Papaya) e Leonor Arnaut (voz), aos quais se juntou Raquel Pimpão para assumir as teclas. Sem grande plano para lá de tocar e ir experimentando com as ideias que Norberto tinha para este “novo” instrumento, o resultado é algo difícil de encaixar num só género, tendo laivos de pop, r’n’b e jazz, criando um universo bastante peculiar.
Segundo a própria Leonor houve uma fase em que pensaram assumir outros nomes, visto que o projeto “remete para um universo que não é bem humano”. Mas o plano acabou por passar, tal como a ideia de serem uma “banda mistério”, apesar de nas descrições apresentam-se como “um grupo de quatro agentes secretos dedicados à exploração da pop por meios não ortodoxos”.
Mas entremos por Olhos de Cetim adentro – “Aku3” tem um mantra que se cola com uma incrível facilidade na nossa cabeça, “Vem p’ra cama / tira o pijama”, simples e irresistível. Esta será uma das grandes magias dos Fumo Ninja, todos eles são músicos conhecidos pelo seu experimentalismo, e aqui usam-no em prol da beleza da simplicidade. “Chapada da Deusa” é outra canção que faz baloiçar o corpo com o seu ritmo cadenciado, o seu sabor a algodão doce, apesar de insisirem em colocar nas nossas mentes a imagem de um golfinho em chamas.
Tudo é feito no sentido de criar uma espécie de sonho idílico, um imaginário alucinado, mas que nos conquista de uma forma tão suave que nem nos apercebemos bem ao que vamos, espécie de canto das sereias a cativar Ulisses. Isto é bem vincado em “Frugal” quando somos claramente aliciados pelos prazeres fugazes ali anunciados uma e outra vez. E outra e mais outra. O álbum desliza rapidamente nas canções finais do disco, são espasmos sonoros de menos de dois minutos entre um andróide aborígene que tem dói-dói, uma nuvem de fumo ninja e um holograma, tudo envolvo numa camada sonora bastante cativante.
Quinta feira, 26 de Maio, estarão no Lux a apresentar o seu trabalho, prometendo que em concerto dão mais espaço para a improvisação, expandindo os temas para lá dos 27 minutos patentes neste trabalho de estreia. Fazendo copy paste descarado da sua folha de promoção: “Em conjunto, procedem à extração de amostras do inconsciente colectivo com a picareta onírica e levam-nas para laboratório. Aí fazem experiências com variadas substâncias químicas – R&B na placa de petri, free no tubo de ensaio, soluções homogéneas e heterogéneas, explosões púrpura e anil. Eles não vão parar até encontrar a poção. E tudo em nome da Deusa.”