Estava a poucos dias de lançar o primeiro álbum e, numa entrevista, dizia que não tinha dinheiro para pagar as contas. Tahliah Barnett, 26 anos, dizia que o que ganhava com a música não bastava para a autossuficiência e que recorria frequentemente à ajuda dos pais. Seis meses depois de apresentar ao mundo LP1, Tahlia Barnett já não daria a mesma resposta.
Tahlia é FKA Twigs. E comecemos por aí, pelo nome, que parece alvo de uma perseguição kármica. Quando se deu a conhecer, Tahliah era apenas Twigs. Um petit-nom inofensivo e pelo qual era conhecida, pelo menos até abril do ano passado. Viu-se depois obrigada a juntar a sigla FKA (Formerly Known As, ou seja, “anteriormente conhecido por”). Isto porque as The Twigs, banda das irmãs Laura e Linda Good, registaram a marca nos anos 90 e avançaram com um processo em tribunal. FKA Twigs tentou falar com as irmãs Good, mas sem sucesso. Elas não querem chegar a acordo nem tão pouco retirar a queixa. Vamos ver se ainda lhe vamos conhecer outro nome.
É difícil qualificar ou categorizar a música de FKA Twigs, até porque o universo que cria vai muito para além da música, mas podemos sempre incorrer no muito injusto cliché de fazer associações com as nossas memórias musicais. FKA Twigs tem James Blake, tem Björk e tem Portishead.
O trampolim que lhe permitiu dar o salto e começar a dar nas vistas foi a assinatura com a editora alternativa Young Turks, que no seleto portfólio que detém conta com nomes como SBTRKT, Sampha ou os The xx.
A sonoridade que a fez ser uma das novidades-sensação de 2014 espelha introspeção. Há melancolia, solidão e desconforto que se junta a doses de sensualidade e sexualidade exarcebada e a perder de vista. O ambiente fechado, íntimo e até luxuriante é conseguido através da percursão e dos sintetizadores, mas muito através do jogo de sons e silêncios. A voz de FKA Twigs tem o papel principal e oscila entre sons agudizantes e desprotegidos, de uma afinação perfeita, e suspiros envolvidos em silencios cortantes. Um bom exemplo disso é o sussurro “I could kiss you for hours”, que dá arranque ao tema “Hours”.
Esta sensualidade está na voz mas também em cada poro do corpo. A componente física é dominante sobretudo nas atuações ao vivo, onde esta menina tímida parece perder a carapaça e converter-se num animal dançante.
A dança foi determinante na vida, por influência da mãe, antiga professora de dança, que fez com que aos 17 anos deixasse o Gloucestershire e rumasse a Londres para estudar ballet clássico e hip-hop. A conquista dos palcos começa aliás por aí, como bailarina profissional de Kylie Minogue ou Jessie J.
Last but not least, os vídeos. Fka Twigs não é música, é um conceito. A imagem dos vídeos alia-se a uma construção forte de narrativa e recorre ao último grito da tecnologia para produzir pedaços de cinema. Por tudo isto, há quem já a tenha apelidado de “alienígena” ou “próximo futuro”.
Na mesma entrevista que deu, a poucos dias de lançar o primeiro álbum, disse que “as canções, os vídeos, os concertos, enfim, até a roupa (…) acabam por fazer parte do mesmo corpo de trabalho.”Ainda que a timidez e o desconforto sejam evidentes, o palco é o lugar certo para ela. Vai estar em Portugal a 4 de junho, no Porto, no NOS Primavera Sound.