O leitor menos conhecedor da história dos Doors estará certamente a estranhar o que está neste momento a presenciar. Decerto estará a pensar com os seus botões que raio de disco é este. Não foi afinal L.A. Woman o último disco da banda de Los Angeles? A resposta é sim e não. Confundidos? Nós explicamos.
Após a gravação de L.A. Woman, Jim Morrison resolve finalmente deixar Los Angeles e os Estados Unidos para trás e partir para o Velho Mundo da eterna cidade de Paris. Cansado de toda a situação que vivera após o escândalo de Miami que o terá afectado bem fundo, Jim partiu à aventura do desconhecido com a sua companheira Pamela Courson para a cidade dos seus heróis da literatura. Jim poderia ser apenas um poeta/escritor quase anónimo na cidade europeia. Infelizmente o Lizard King praticamente só teve uma vida boémia à qual se juntou, supostamente, uma nova adição por heroína, a qual diz-se que lhe ceifou a vida numa fatídica noite dentro de uma banheira. Toda a história da sua morte está envolta numa nuvem de secretismo pois não há grandes dados sobre a autópsia feita ao corpo de Jim. Toda esse mistério é tema para um livro de ficção [Poeta no Exílio] do próprio companheiro de Jim, Ray Manzarek, que lança para o ar a suspeita de Jim estar vivo e vivendo uma vida familiar algures numa ilha dos trópicos.
Apenas três meses após a morte de Jim Morrison, os restantes elementos dos Doors resolvem lançar este Other Voices para espanto geral. No entanto com um pouco de pesquisa ficamos a saber que a banda tinha começado as gravações ainda Jim era vivo com a esperança que ele voltasse mais tarde ou mais cedo para voltar a gravar como quarteto. Segundo Ray Manzarek, a música “Down on the Farm” teria sido escrita durante as sessões de L.A. Woman mas riscada do alinhamento final por ordem de Jim. Ainda segundo Manzarek, algumas destas canções teriam sido ensaiadas com o próprio Jim.
A verdade é que o disco sai muito pouco tempo após a morte de Jim e o mundo não estava preparado para um disco em nome de Doors e sem Jim Morrison. A banda continuava com um ritmo musical muito coeso, bastante na onda de L.A. Woman mas a voz, a pujança e a imprevisibilidade de Morrison não estavam lá e vai daí este disco seria sempre um fracasso. As vozes de Manzarek e Krieger soam sempre a remendos forçados para um pneu que já nem tem conserto.
Tivessem os três membros sobreviventes dos Doors tido o arrojo de criarem uma nova identidade e começarem do zero como uma nova banda e tudo poderia ter sido diferente. Músicas como “In The Eye of the Sun” ou “Ships With Sails” seriam bons cartões de visita para uma banda a começar de novo. No entanto, ao lado do resto do material composto com Jim Morrison são criações menores que nem sequer podem ter comparação. Tivessem-no feito e poderiam perfeitamente ter tido uma carreira mais duradoura com material original e não terem ficado o resto da sua vida com a sombra gigante de serem ex-membros dos Doors.
A verdade é que esta fase sem Morrison somente durou dois discos. No entanto, para a história apenas ficaram as recordações dos discos com Jim…