Das vinte e seis canções de The Wall, David Gilmour só escreveu três. Pouco importa, escreveu “Comfortably Numb”. A letra é de Roger Waters, alguma melodia de voz também mas o esqueleto da canção é todo de Gilmour. Desse esqueleto fazem partes dois solos de guitarra inesquecíveis. Gilmour tinha essa qualidade: os seus solos são sempre imensamente melódicos, fazem sempre avançar a música, parece que têm palavras lá dentro (o Slash foi mais tarde um dos seus legítimos herdeiros). E que doce é a melancolia quando é Gilmour quem a faz. Foi também o canto do cisne numa dupla criativa que tanta coisa boa nos deu, a última grande colaboração entre Waters e Gilmour. Em The Final Cut a voz de Gilmour quase não se ouve e os discos seguintes já não têm Waters. Com “Confortably Numb”, os Floyd-propriamente-ditos despedem-se do mundo. Bonita a despedida, pá.
“Comfortably Numb” – Pink Floyd
