Primeiro, vem a bruma misteriosa, contrabaixo e piano perdidos, à procura ainda até do próprio tempo do tema. Até que finalmente entra a melodia e, coisa rara no jazz, é o próprio contrabaixo quem a faz, um golpe de estado contra a discrição habitual do instrumento, quase sempre forçado a marcar o ritmo na sombra dos solistas. Tudo é então invertido pois o trompete de Miles e os saxofones de Coltrane e de Adderley é que estão na penumbra, só acrescentando duas notas uníssonas à melodia do contrabaixo. Depois vem a improvisação maravilhosa de Miles, incrivelmente simples e tão “catchy” que rouba, invejosa, o protagonismo à melodia inicial tocada por Paul Chambers. Tudo o resto vocês já sabem: Coltrane e Adderley e Evans a porem à vez mais um degrau em direcção ao paraíso.
Canção do Dia: So What – Miles Davis

Ricardo Romano
"Um bom disco justifica sempre os meios”- defendeu-se Ricardo Romano, ao ser acusado de ter vendido o rim esquerdo da sua tia entrevada para comprar uma edição rara do Led Zeppelin II - o melhor disco de sempre. O juiz não se convenceu, mandando-o para uma prisão com condições desumanas, onde uma vez foi obrigado a ouvir do princípio ao fim um disco dos Creed. Actualmente em liberdade, cumpre pena de trabalho a favor da comunidade no site Altamont mas a proximidade com boas colecções de discos não augura nada de bom.
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