No final da sua curta vida, Jimi estava a entrar numa nova fase criativa, abertamente política. Na agenda conturbada dos finais dos 60s, início dos 70s, o Vietname era o principal alvo a abater. Já com a icónica «Star Spangled Banner», Jimi tinha abordado o tema, reconstruindo o hino nacional à luz da tragédia da guerra. Mas em «Machine Gun», lançado em 1970 no disco ao vivo Band of Gypsies, Jimi levou o tópico até às suas últimas consequências. Ouçam esta versão, tocada em Copenhaga quinze dias antes de Jimi morrer. A guitarra de Hendrix não podia espelhar mais fielmente o horror da guerra. Começa por um riff rápido que simula a rajada de uma metralhadora. Ouve-se também bombas a cair, o napalm a arder, os helicópteros da morte a sobrevoar o mato. Mas o que mais impressiona são os gemidos de sofrimento. Saltem para o minuto 4 e 20 segundos e atentem aos gritos de desespero que saem das cordas de Jimi, crianças a gritar queimadas pelo napalm, mulheres violadas por pelotões inteiros, miúdos de 18 anos matando e morrendo por razões que desconhecem. «Machine Gun» está para o rock como a Guernica de Picasso está para a pintura: testemunhos pungentes e universais da dor e estupidez da guerra.
Canção do Dia: Jimi Hendrix – Machine Gun
Ricardo Romano
"Um bom disco justifica sempre os meios”- defendeu-se Ricardo Romano, ao ser acusado de ter vendido o rim esquerdo da sua tia entrevada para comprar uma edição rara do Led Zeppelin II - o melhor disco de sempre. O juiz não se convenceu, mandando-o para uma prisão com condições desumanas, onde uma vez foi obrigado a ouvir do princípio ao fim um disco dos Creed. Actualmente em liberdade, cumpre pena de trabalho a favor da comunidade no site Altamont mas a proximidade com boas colecções de discos não augura nada de bom.
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