Beth Orton entrou nos radares do mundo em 1996, com Trailer Park, que juntamente com os sucessores Central Reservation e Daybreaker estabeleceram o seu som: a folk acústica na base de tudo, mas com recurso inteligente e subtil a electrónicas, e com a voz personalizada de Orton a dar estrutura ao que sempre foram, sobretudo, canções.
Agora, 20 anos depois, muita coisa mudou. A inglesa Orton mudou-se para a California com o marido americano, perdeu a mãe num processo naturalmente doloroso, tem duas crianças e sentiu que era altura de começar de novo. Em entrevista ao Guardian, explica: “Bom, eu já tinha feito aquilo da singer-songwriter inglesa e cheguei a um ponto em que precisei de deitar tudo fora e encontrar um novo lugar, tanto psicologicamente como criativamente”.
Daí a estranheza deste novíssimo Kidsticks. Só a voz de Orton, que continua inconfundível, trai a origem do disco. É que, no resto, poderíamos estar perante o trabalho de qualquer outro artista que nunca tivéssemos ouvido. No processo de composição, a costumeira guitarra acústica foi trocada pelos teclados, e isso, mais uma vez, faz toda a diferença nos caminhos escolhidos.
Na verdade, explica ela, inicialmente a ideia era fazer um disco totalmente electrónico, mas algumas canções foram impondo outros caminhos mais convencionais, e nós até agradecemos por isso.
Aquilo que temos, na verdade, é o disco mais arrojado, arriscado e aventureiro disco da carreira de Beth Orton. Temos muita electrónica sim; temos um arranque quase ao estilo dos Animal Collective, com “Snow”; a subtileza ‘spoken word’ da muito serena e bonita “Corduroy Legs”; temos ecos de The xx e até de Bjork; temos uma atmosfera maioritariamente densa e marcada pela percussão; e temos muitas outras coisas, num caminho exploratório que não seria de esperar.
Infelizmente, isso nem sempre é bom. Mesmo ultrapassando a desilusão de Beth Orton já não querer fazer aquele som que a ela nos levou originalmente, o novo rumo parece ser ainda de busca, de um grito de energia e criatividade, mas sem um foco definido, que falta a este Kidsticks.
Ganha pontos pelo risco nesta fase da sua carreira, mas como produto isolado talvez o salto tenha sido demasiado abrangente.