Quase três anos e meio depois de vermos os Baleia Piloto no extinto Sabotage, rumámos ao Village Underground para a festa de lançamento do seu primeiro álbum – Corta Vento. Matámos as saudades, mas ficámos com vontade de mais!
Desde o concerto no Sabotage, em janeiro de 2019 a.c. (antes do covid), entre muitas outras coisas, a banda passou de quarteto a trio, desenvolveu novas dinâmicas e apurou a sua identidade. Aguardávamos, por isso, entusiasmados o reencontro com os Baleia Piloto.
Nem o mais que provável nervosismo da primeira apresentação de Corta Vento, nem o fantasma de Cinderela por terem de acabar a sua atuação antes da meia-noite, pareceram afetar a boa disposição da banda. O diálogo e as brincadeiras – entre os músicos e com o público – foram constantes, assim como o sorriso na cara de todos.
Os corpos começam a balançar com a atmosfera eletrónica de “Samurai”, que ajuda a destacar um dos alicerces do som da banda, a simbiose entre as vozes de Nuno e David.
Sem perder a sua personalidade, os Baleia Piloto vão experimentando roupagens diferentes para acompanhar as suas melodias. Seguem-se “Contramão” e “Lúcifer”, mais próximas do rock, sentindo-se a passagem de David do sintetizador para o baixo, ora reforçando a linha rítmica segura de Antero, ora acompanhando a guitarra livre e astuta de Nuno.
Para deleite do grupo de adolescentes na primeira fila, a banda baixa rotações para “Norte”, o último single, e viajamos no tempo e no espaço até às garagens da nossa juventude.
A banda assume então a sua vertente mais dançante e oferece-nos duas das suas novas criações, “Fuga” e “Trovoada”, com “Pé de Chumbo” pelo meio. E se já eram poucos – se alguns – os que resistem sem dançar, “Bombito” leva a sala ao delírio com o seu final frenético e apaixonante.
Os ponteiros aproximam-se ameaçadoramente da meia-noite e os Baleia respondem com mais garra ainda. Se no disco a correria de “Canaviais” já era desenfreada, ao vivo assume estatuto de hino de estádio e é com gritos de “só mais uma” que o público responde ao acender das luzes, fazendo as vezes das badaladas.
Não houve mais uma, mas havia sorrisos espalhados pela sala. Os Baleia Piloto não saíram descalços nem à procura de nada que não seja o próximo concerto. Nós, também!
A primeira parte esteve a cargo de David Pires, que se apresentou em nome próprio, de guitarra acústica a tira-colo, acompanhado por Ricardo Amaral na guitarra, Martim Torres no baixo e Fábio Rodrigues na bateria. Tanto a música como o ambiente são intimistas, recorrendo mesmo a momentos em que a luz incide apenas sobre a voz e a guitarra acústica. O ex-Pontos Negros reforça essa intimidade introduzindo todas as músicas, explicando de onde vieram e ao que vêm!
A onda calma de um pop sentido e tingido por tons folk atravessa quase todo o alinhamento, que inclui um slow e uma cover de Los Hermanos, que é interrompida quase no fim por um delicioso apontamento pleno de groove jazzístico.
Bela foi a noite em dose dupla. A nova música portuguesa a acontecer…
Fotos: Rui Gato