Foi bonita a noite de sábado no Sabotage: rock português cantado em português, servido em dose dupla. A casa cheia, e mais do que rendida, confirma o que já suspeitávamos: a notícia da morte do rock parece-nos manifestamente exagerada…
Para os Noves Fora Nada, foi o baptismo de palco mas ninguém deu pela virgindade: os seus músicos são lobos velhos, com muitos quilómetros de estrada nos Uaninauei e nos TV Rural. Adorámos o seu rock grungy, cheio de variações inesperadas e lugares incomuns. A guitarra de Alexandre Tavares distribui o jogo com classe, sempre melódica e inventiva. A secção rítmica é elegante e eficaz. O timbre rouco e trémulo de David Jacinto tem tanto de punk como de fado, a voz que Jello Biafra teria se tivesse crescido na Madragoa. Um frontman com carisma, gingando pelo palco, entornando as garrafas de cerveja mais desprevenidas.
Foram os Baleia Piloto que abriram a noite com o seu rock doce e refrescante. Simples e despretensiosos, como mandam as etiquetas do bom gosto pop. A sua mistura de vozes sedutoras (quase R&B) com uma bateria escandalosamente precisa tem qualquer coisa de jantar romântico em Auschwitz. A música perfeita para procriar ao pé da lareira antes de as SS arrombarem a porta.
Duas novas bandas, mostrando o que valem, prenhes de futuro. O rock português como se quer, vivo e vibrante.
Fotografia: Rui Gato