O que é que falta inventar na música?
Não acredito que se vá assistir a uma invenção propriamente dita, e prefiro evolução a invenção. E evolução é uma das muitas palavras em que penso enquanto ouço Xen.
Xen não é a estreia de Arca, o venezuelano que aos 25 anos já trabalhou com Kanye West e Björk, que produziu o bem sucedido trabalho de FKA Twigs. Sim, isto é só currículo, mas quem desperta o interesse dos dois primeiros, não pode ter vindo só ver a bola.
Cada tema remete para um espaço próprio, quase nos faz pensar em conceitos geométricos, e geometria é também uma das muitas palavras que me ocorrem enquanto ouço este álbum. Foi justamente esta noção de espaço que criou a minha ligação com Xen. Começamos a ouvir «Now You Know» e são segundos até a nossa sala (ou o quarto, ou o escritório, ou o que quiserem) se começar a deformar, e a cada tema e a cada beat as divisões esticam e encolhem (não se sentem um bocadinho encurralados com o sample de «Xen»?).
Salta-nos aos nossos ouvidos que Arca pode mesmo ser o melhor produtor da sua geração, e as suas competências na produção engrandecem a composição e tornam o trabalho melhor a cada minuto que passa. E há o par «Thievery» e «Lonely Thugg», de um ritmo absolutamente viciante, capazes de convencer até os mais resistentes à música electrónica.
O que me fica deste disco é também a sua imprevisibilidade, o seu equilíbrio tão consistente, a produção irrepreensível em todos os momentos e sobretudo a surpresa de descobrir música feita digitalmente com consciência e confortável com isso. Xen é um disco de laboratório aperfeiçoado ao milímetro e é brilhante também por isso mesmo.