Os Youthless são Sebastiano Ferranti (baixo e vozes) e Alex Klimovitsky (bateria, sintetizador e vozes), um londrino e um nova-iorquino a viver há vários anos em Portugal. Depois de inúmeros singles, acabam de lançar pela NOS Discos o primeiro álbum, This Glorious No Age, que apresentam ao vivo já a partir desta sexta-feira, no Musicbox e Maus Hábitos, por exemplo. Estivemos a conversa com eles para conhecer o percurso de uma banda que está sediada em Lisboa mas podia ser de qualquer outro ponto do globo.
Altamont: Este é o vosso primeiro longa-duração mas vocês já lançaram EPs e estão sempre a lançar singles. Como é que chegamos a este álbum, só agora conseguiram reunir temas que tivessem coerência todos juntos?
Alex: Acho que foi por duas razões, foi por acaso, pela vida em si, e pelo nosso estilo de fazer música. Ao princípio, como era mais um projecto de prazer, de amizade, não foi tão organizado, tipo temos umas músicas lançamos, não foi tanto pensado em termos de carreira – álbum, tournée, álbum tournée – mas este álbum já tínhamos quase pronto, escrito, em 2011, já estava pronto para fazer, mesmo depois do Telemachy, a ideia era quase este ser um parceiro do Telemachy, serem duplo EP e depois este tornou-se em LP, só que depois eu tive um acidente de costas, a minha capacidade de estar sentado a tocar bateria era muito limitada, então fizemos aos bocados, também como eu tinha que fazer a recuperação física nos Estados Unidos, comecei a passar mais tempo lá.
Sebastiano: E eu estava cá por causa da família.
Alex: Sim, o Sebastiano tem uma filha muito linda. Então passámos, desde 2011/2012 até agora a banda foi quase em part-time, lançámos ainda muita coisa, a nível de singles e tocámos em muitos países, então até parece que a banda esteve activa, mas a verdade é que foi part-time.
Sebastiano, também tens essa opinião, que o disco tem alguma relação com esse EP que já conhecíamos – vês o disco como uma continuação dessas músicas ou há aqui um romper com essas canções?
S: O estilo de escrever está ao mesmo nível, mas em termos de sonoridade e a maneira como foi gravado e a nossa abordagem foi um bocado diferente e a maquinaria também. O primeiro, Telemachy, foi uma semana de gravação.
A: E escrito, escrevemos tudo numa semana, a dormir no chão de um estúdio em Inglaterra.
S: Enquanto este foi mais focado e com mais pessoas envolvidas, uma pessoa para misturar, várias pessoas para captação e temos mais convidados no disco.
A: Os teclados que aparecem no primeiro EP somos nós a tocar, aqui temos vários teclistas, o Francisco Ferreira, dos Capitão Fausto, nos teclados, o João Pereira dos Riding Pânico, o Duarte Ornelas que é um produtor muito fixe que trabalha no Black Sheep [Studios] , a Francisca Cortesão. Então este foi mais trabalho de banda, o outro foi mais punk.
E como é que é a formação dos Youthless hoje em dia?
A: Somos os dois, mas ao vivo quando podemos levamos um teclista, o Francisco tem estado a tocar connosco bastante regularmente.
O “Golden Spoon” saíu como primeira amostra, entretanto surgiu o “Attention”, são dois possíveis espelhos para o resto do álbum?
S: Não espelha.
A: São dois lados, o “Attention” é mais escuro, mais rock cru e directo, e o “Golden Spoon” é o mais parecido com as coisas antigas, ainda tem um bocado da vibe de dança e mais alegre. Mas o disco vai a todas as partes… bom, tudo com o mesmo som, e acho que é muito coerente, mas acho que viaja bastante, até temos um coro de miúdos que gravámos em três músicas, e para nós acho que foi um ponto de partida muito diferente.
S: Mais complexo também.
Estava aqui a olhar para a lista de participações internacionais, nas gravações e misturas [Justin Gerrish, Chris Common, ], como é que chegaram até eles?
A: O Chris tem ligações portuguesas, já trabalhou com PAUS, então conhecemo-lo através de músicos portugueses. O Justin, o Seb já tinha trabalhado com ele noutro projecto, o Seb mandou-lhe e disse “não temos dinheiro para te pagar o que os Vampire Weekend pagam, mas se curtires diz-nos”, e ele curtiu. Uma das razões por que o disco demorou tanto tempo, o disco está gravado há mais de um ano, mas levou quase 1 ano e meio a misturar, porque não lhe pagámos nem uma centésima parte do que ele habitualmente recebe.
S: Não, ainda foi carote. Ele é bom no que faz, e nota-se o que fez no disco do princípio ao fim, conseguiu fazer isso soar tudo como deveria soar um disco.
Fica difícil perceber se os Youthless são uma banda portuguesa, com todas estas ligações.
A: Somos uma banda a morar em Portugal.
Pergunto isto também porque há várias publicações internacionais a seguir-vos. Os Youthless são um projecto para internacionalizar?
S: Sim, sim, somos uma banda para tocar em todo o mundo.
Até o próprio estilo de música, não é uma coisa que possa cingir-se a um país.
A: Eu acho que, ao cantar em inglês, há algo que nos corta, nacionalmente. Porque eu acho que é bom apoiar as bandas em Portugal que cantam em português. Há muito rock bom que se faz em inglês, mas sente-se sempre que é algum tipo de tributo, as bandas que cantam em português é algo diferente. Mas há muita influência portuguesa na nossa música, há muito afrobeat que eu acho que vem de Portugal, há tanta música africana que já se tem misturado no pop e mainstream aqui, que para nós é uma influência.
Acabou de sair o teledisco do single “High Places”.
A: Sim, é uma animação, feita por uma amiga minha que conheço desde os 10 anos e acho que foi a primeira animação que ela fez, está muito fixe. E vai entrar agora em vários festivais de cinema.
A partir desta 6a feira, começa uma série de concertos – em Lisboa, Porto, Leiria, Coimbra, Cascais, Barreiro e Galiza. Vão ser unica e exclusivamente para apresentar o álbum, ou também há canções mais antigas?
S: Para o primeiro, no Musicbox [11 Março], estamos a pensar fazer o disco do princípio ao fim, mas ainda estamos a ‘negociar’ – resto das datas, já o foco não é tanto no disco. Mas no Musicbox vamos ter uma surpresa, que é o Jibóia com LAmA [aka João Pereira, aka Shela], vão tocar juntos, vão fazer um mash-up entre eles os dois.
A: Eles vão fazer a primeira parte e depois o Shela vai tocar connosco, o Francisco também nas teclas.
Então ao vivo vocês são um trio?
A: Agora sim, mas de vez em quando tocamos sozinhos. Mas nas músicas novas, os teclados acrescentam muito, porque são coisas complicadas, eu antes tocava teclado com uma mão e bateria com outra e cantava, mas aqui é impossível fazer isso, os teclados são muito complexos.
Desde que conheço os Youthless que os tenho como uma das bandas mais difíceis de catalogar. Alguma ajuda?
A: Nós temos imensas influências, mas a base do nosso som é garage rock. Mas há coisas que nem vêm de nós. O outro dia mostrei o novo disco ao meu irmão e ele disse que há cenas tipo “cowboyada”, “old west”, que são coisas que curtimos mas não são coisas normalmente compomos. Eu acho que o que está a acontecer, mais e mais agora, é que a nossa estética, a nossa maneira de tocar é muito garage rock, riffs a repetir e ruído e força, mas a direcção da escrita e composição é mais conceptual, tipo Bowie, Pink Floyd. Que são duas coisas que… uma é música pelo físico, só música pela música – outra é música como vocabulário, música para transmitir ideias. E agora sinto as mesmas coisas, os riffs funcionam como power, queres gritar, mas agora as músicas servem mais como tela para escrever histórias, e é interessante, sentes isso nas canções, elas têm essas duas componentes que no fundo são quase opostas, uma é mais cerebral outra é mais ‘das entranhas’. Quando resulta acho que funciona muito bem.