Movimento, barulho, suor, gritos: noutro contexto podiamos estar a falar de uma cena de batalha ou no túnel do Estádio da Luz em dia de Benfica – Porto, mas há uma diferença. Duas aliás: Boa música e dança ainda melhor.
Quem já foi a um concerto de Throes+ The Shine, ou cruzou-se de alguma forma com a sua música, compreende perfeitamente o início deste texto: falamos de energia concentrada que se solta e choca com violência contra nós a cada malha que se sucede. Estivemos à conversa com eles (Igor – percussão e André do Poster – Voz) num dia bonito de sol, numa esplanada de Lisboa, e mesmo assim foi difícil de conter o entusiasmo e a vontade de kizombar, nem que fosse sozinho num canto.
Com o segundo álbum de originais, Mambos de Outros Tipos, acabado de lançar, quisemos dar a conhecer estes nossos kambas e tentar perceber esta mística que os envolve. Kuiou bué, manos, é tudo o que vos posso dizer mais.
Altamont: Como é que os Throes se juntaram aos The Shine?
Igor: Foi um bocado por acaso. Nós conhecemo-nos no Festival Náice, organizado pela Lovers and Lollypops no Plano B. Esse festival consiste em reunir algumas das bandas que tinham tocado no Milhões de Festa do ano anterior. Nós não nos conhecíamos, vivíamos todos perto uns dos outros, mas nunca nos tínhamos visto. Throes tocou depois de Fucked Up, uma banda canadiana, e, não me perguntes porquê, mas tínhamos feito uma música, que por acaso só tocamos dessa vez, que tinha um groove muito semelhante ao kuduro. Eles ouviram aquilo, acharam piada (eles estavam no concerto a animar)
André do Poster: No bar até começamos a fazer umas improvisações
Igor: Depois, eles até já tinham tido a ideia de fazer a junção do kuduro com o rock, e vieram falar connosco no final do concerto para fazermos uma participação ou uma coisa assim do género. Aceitamos logo de bom grado. Passados uns dois ou três meses, fomos convidados a participar num vídeo para o bodyspace e aí lembrámo-nos de chamar os The Shine para participarem numa das músicas. O pessoal curtiu, fomos convidados para tocar nos Milhões de Festa e as coisas correram tão bem que decidimos “Pessoal, bora fazer uma banda.” E assim ficou.
Esta é a versão dos Throes… Mas e a versão dos The Shine?
André: É mais ou menos aquilo que o Igor acabou de dizer. Nós, The Shine, já tínhamos pensado várias vezes em fazer um som rock kuduro. Os nossos concertos, de The Shine, era num ambiente rock, metal, às vezes íamos e pensávamos “mas o que é que o rock tem a ver com o kuduro?” (risos) Mas as pessoas curtiam. Depois quisemos entrar um pouco mais nesse meio que íamos conhecendo e decidimos juntar o rock com o kuduro. Vimos os Throes naquele dia e decidimos logo que seria aquela banda que nos ia ajudar.
Imaginar o rock e o kuduro juntos, pelo menos a nível conceptual, é fácil entender a junção dos mesmos: ambos movimentam muita energia, são muito fortes. Mas a nível mais técnico, de notas, escalas, etc. essa junção dá-se com facilidade?
Igor: Eu toco bateria e não acho que, pelo menos a nível de ritmo, a junção seja difícil. O meu background é rock, hardcore e isso, por isso ao início, tive de começar a ouvir mais coisas dentro deste registo novo para conseguir criar as dinâmicas necessárias para a junção ser coesa. Se tu ouvires as músicas de kuduro, que geralmente são feitas em computador, percebes que aquilo é um bocado tudo igual do início ao fim e nós quisemos mudar isso. Deixar o groove um bocado preso àquilo, mas criar outras dinâmicas ao mesmo tempo. Isso acho que foi o mais complicado. O que vale é que fazer isto todos em conjunto custa muito menos.
Vocês já somam uma série de participações no estrangeiro, principalmente na Europa. Que papel é que acham que têm o reconhecimento estrangeiro na vossa consolidação a nível nacional? Se é que acham que existe alguma relação.
Igor: É sempre um ponto positivo para nós poder tocar lá fora. Estás a espalhar a tua música, a cultura portuguesa, a angolana, e para além disso é sempre especial.
E como é que o pessoal do estrangeiro recebe a vossa música? Para um português, tanto o rock como o kuduro são géneros musicais já reconhecidos mas, por exemplo, para um francês ou um espanhol, não será assim. Como se processa o primeiro contacto?
Igor: Primeiro estranham mas depois entranham (risos)
André: Já entramos em alguns concertos, por exemplo em França, onde subimos ao palco e as pessoas começavam a dizer “eh, Throes the Shine, Batida, Batida” com sotaque francês. É sempre engraçado.
Igor: Quando ainda andávamos a tocar este último disco, quem entrava em palco primeiro era quase sempre eu: havia alturas em que ainda nem tinha chegado à bateria e já ouvia pessoal a dizer “Batida! Batida!”… sempre achei isso brutal. Também já nos aconteceu chegarmos a concertos onde as pessoas primeiro ficam sem perceber bem o que se passa mas depois acabam por alinhar.
Costuma-se dizer que existe a música para o corpo e a música para a alma. Vocês acham que conseguem encontrar um balanço entre os dois ou é assumidamente uma coisa para dançar?
André: Acho que depende. Temos músicas mais calmas neste disco, boas para ouvir com a namorada e criar um certo clima, depois temos outras como o Dombolô, muito mais mexida.
Acham que as letras, por exemplo, podem servir como contraponto para a velocidade e o ritmo da música num todo?
André: Para ser sincero, a nossa maneira de compor começa com o Igor a tocar uma bateria, o Marco com um riff de guitarra e faz-se uma base. Nós (André e Diron, o outro vocalista) chegamos lá, começamos a pensar, a entrar no ritmo, e a parte da letra vai começando a ser feita de modo a encaixar no que estamos a ouvir.
Em relação ao vosso novo álbum, o Mambos de Outros Tipos, o que consideram como a coisa que mais mudou face ao anterior, Rockuduro?
André: Acho que crescemos como banda e optamos por não nos centrar apenas num só estilo, o rock kuduro. Tentamos fazer uma miscelânea de estilos. O Rockuduro foi uma coisa bem feita, mas hoje já nos conhecemos melhor, pessoalmente e tudo (é muito mais fácil perceber, por exemplo, as minhas preferências ou as do Igor) as coisas juntam-se muito melhor, coisa que enriquece muito o produto final que é este Mambos de Outros Tipos.
Igor: Olhando para um e para outro consegue-se ver o crescimento da banda e percebes que está mais madura. No primeiro disco ainda não nos conhecíamos muito bem, eu tinha o meu background, eles tinham o deles e foi uma mistura. Hoje em dia somos amigos, temos mais facilidade em partilhar aquilo que gostamos e isso é enriquecedor. Nota-se na variedade do álbum, temos umas músicas mais tradicionais angolanas, outras mais electrónicas….
No meio da loucura que é ver-vos ao vivo acredito que já tenham testemunhado uma série de episódios caricatos. Qual foi o mais incrível que já vos aconteceu?
Igor: (risos) Acho que o mais estranho foi mesmo em Genéve, eu não o vi ao vivo porque estava concentrado a tocar um bocado mais rasgado, mas eles depois contaram-me que houve uma miúda que se atirou para o crowdsurfing sem parte de cima. Eu só vi a foto depois mas nem acreditei.
Dentro do público que começam a criar, sentem que estão a juntar o pessoal do rock ao pessoal do kuduro?
André: O nosso estilo de música quebra barreiras. Eu pelo menos penso isso.
E planos para o verão?
Igor: Ainda não podemos confirmar muita coisa mas sim, vamos ter festivais porreiros lá fora, na Europa, e em Portugal ainda estamos a confirmar a qual vamos. Queremos concentrar-nos em promover o disco o máximo possível.
E para finalizar… A aposta no rock kuduro, é para manter?
André e Igor: Sim, claro!
André: Nós criámos este estilo e tratamo-lo como primeiro filho. Os pais nunca abandonam os filhos.
[wzslider]
Fotos: Francisco Marujo