Foi sexta no Sirigaita: cúmbia punk do bom, cortesia dos promissores Marlon Ruivo.
Sexta-feira passada fomos ao Sirigaita, no Intendente, ver um novo projecto – como agora se diz. Chamam-se Marlon Ruivo, ainda não têm nada gravado e ficámos agradavelmente surpreendidos com o que ouvimos: um rock “apunkalhado”, com melodias saborosas que se colam ao ouvido, e uma teatralidade burlesca à Pop Dell’Arte (Marlon Augusto brincando com as sílabas, como um gato atrás de um novelo de lã).
A bateria orgulhosamente tosca de Dee-Dee Marlon (um-dois-um-dois!) é o elemento mais punk da receita, se bem que os seus “irmãos” Ricky e Charlie Marlon – no baixo e na guitarra – também não complicam, preferindo a energia selvagem do rock’n’roll a estéreis exibicionismos. O que não quer dizer que não haja apetecíveis matizes, como os laivos surf music da guitarra à East Bay Ray, e demais nuances.
Cosmopolitas, não são bem uma banda, são mais uma viagem de inter-rail, cantando em quatro idiomas e mesclando sonoridades aparentemente contraditórias, como a cúmbia e o punk. Não percebemos bem as letras – o delay do microfone não ajuda – mas deu para entender que é malta “esquerdalha”, que nunca beijaria na boca uma democrata-cristã.
Depois de “Kaputt” – cantada em alemão! – houve uma surpresa. Aproveitando o facto de o primeiro vocalista da banda se encontrar na assistência, chamaram Rui Ruivo para cantar “Múmia”, interpretada num registo bem diferente do de Marlon Augusto, mais roufenho e agressivo, fazendo lembrar os Mão Morta dos primeiros discos. Uma bonita homenagem ao fundador que deu nome à banda.
Anunciaram a última canção – “Violet” -, cumpriram-na, saíram do “palco”, todos menos o vocalista. Qual não é o nosso espanto – e o dos seus camaradas! – quando Marlon Augusto começa a cantarolar um reggaeton, com o seu espanhol ensopado de auto-tune. Charlie ainda hesita mas acaba por ceder, voltando ao seu posto e improvisando, tentando dar um balanço latino à sua guitarra distorcida. Dee-Dee vai pelo mesmo caminho, “sul-americando” a bateria, sincopando a questão como se não houvesse amanhã. Ricky, o único com juízo, abstém-se de participar no rega-bofe. O público diverte-se, em modo guilty pleasure…
Bela foi a noite na rua dos Anjos. Que venha agora um disco, a banda promete.
Fotografias: Rui Gato