Lisboa estava doida com o regresso de B Fachada. Só se ouvia falar disso, todos comentavam, postavam ou “likeavam” coisas que a isso dissesse respeito. Tudo bem: um óptimo músico, ausente da ribalta durante muito tempo, um comeback em grande. Certo. Mas ao mesmo tempo, uns quilometros abaixo do “regresso do ano”, acontecia uma noite muito bonita também.
No Musicbox, Ana Miró, mais conhecida por Sequin, dava o concerto de apresentação daquele que é o seu primeiro álbum de originais, Penelope. Acompanhada pelos viçosos Juba, que abriram a noite com grande pinta, Sequin ia-nos mostrar um electro-wonderworld, onde tudo parece líquido, brilhante e faz todos os sentidos tilintarem.
Como disse, Joel, Tomás, Isaac e Miguel arrancaram a noite com estilo e pujança. Com um som mais que próprio para uma noite morna a puxar para o quente, soube bem ver o Mynah, mostrar as garras outra vez.
Intervalo para o wc e a cerveja, conversa para cá, conversa para lá, e mais depressa do que consigamos cantar “Beijing, Beijing”, Sequin tinha chegado. Com um baixo a acompanhar, Penelope cresceu, cresceu bem. Se houve coisa que deu para perceber neste concerto foi que ouvir a música da Ana ao vivo é completamente diferente de ouvir em casa. Mais rico, mais forte, mais intenso. “Flamingo” abriu as hostes e o Musicbox dançou. Altos e baixo digitais iam se cruzando, o baixo fazia estremeçer a caixa toráxica , mas dançamos todos. Por entre as luzes e os corpos que enchiam a sala a Penelope passeou, e em “Origami Boy” (muito mais intensa ao vivo) veio a primeira prenda da noite. Márcia subiu ao palco, cantou, flirtou com Samuel Úria, e deu mais uns brilhos à agradável serão que se desenhava.
“Peony” veio puxar pelo pezinho de dança com a ajuda de um forte solo de teclas da Ana, o que preparou terreno para o segundo convidado. Shela. A música era “Hikaru Garden” e o som já se conhecia. Ou achavámos que conheciamos. Shela ( Ex-PAUS) veio ao palco e tudo voltou a mudar outra vez. Impressionante o quanto a composição geral daquilo que se ouviu ganhou com o teclista louco e as suas distorções.
Como não podia deixar de ser, lá fomos todos viajar para um oriente digital com a sempre alegre e sempre contagiante “Beijing”. E este foi o final “falso” do concerto. Veio encore e veio música nova. Soturna e cheia, “On Fire” (arrisco) veio mostrar que Sequin tem trunfos na manga, ficamos à espera que os leve a jogo. Para acabar em beleza, vestimos todos fatos de licra e pusemos fitas na cabeça para dar à anca ao som de “Let’s Get Physical” de Olivia Newton-John.
Não fui a B Fachada – talvez consiga ir hoje, gostava muito – mas nem por isso fiquei mal servido. Não mesmo. Sequin cada vez mais se solidifica como a nova cara do pop português. Uma cara bonita e fresca, ideal para tirar o pó a este género, maltratado há tanto tempo no nosso país. Humilde e agradecida, ofereceu o concerto aos pais, aos que a ajudaram na gravação do disco e a nós, que saimos de lá com um sorriso na cara. Parabéns aos Juba, muitos parabéns à Ana e que venham mais noites destas. Posso dizer que apesar de não ter fumado com B Fachada, dançei com Ana Miró e fiquei muito bem.
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(Fotos por Afonso Sousa)