Tivemos a sorte e o prazer de entrevistar Antonio Luque, o homem conhecido por Sr. Chinarro, presença já bastante assídua aqui nas páginas do Altamont. Nome pioneiro da indie espanhola dos ano 90, Sr. Chinarro é, há muito, um artista consagrado no seu país, e conta já com uma extensa e ótima discografia. As perguntas que lhe fizemos tentam abarcar um largo período de tempo, mas as respostas, essas lêem-se num fôlego só. É sempre assim, quando são interessantes.
Altamont: Comecemos pelo princípio, que é sempre uma boa maneira de começar. Porquê Sr. Chinarro e não Antonio Luque?
Sr. Chinarro: É difícil dar a conhecer uma marca. Não vou desperdiçar o trabalho de mais de 20 anos a mostrar-me como sr. Chinarro por uma questão de egos.
Depois de mais de 20 anos de carreira, como vês atualmente o estado da música pop-rock espanhola? Alguns nomes que queiras destacar?
Tudo se tornou demasiado comercial porque o público começou a ouvir grupos parecidos com Sr. Chinarro. Então entrou o dinheiro, as marcas, os festivais mais de lazer e turismo do que de música. Infeliz e previsivelmente os espectadores aproximaram-se dos piores, das imitações menos interessantes, para não dizer vulgares e inofensivas. No entanto, todos os músicos me merecem mais respeito do que qualquer outro cidadão, de modo que não gostaria de exceder-me como crítico, porque criticar não é o meu trabalho. E ainda bem.
Em Portugal há muito pouco conhecimento da música que se faz em Espanha, o que é estranho, uma vez que somos países vizinhos. Calculo que o contrário também seja verdadeiro. O que conheces tu da música portuguesa?
Praticamente nada. Os vizinhos são assim. Eu também não sei quase nada dos vizinhos da minha rua. Já é muito bom não entrarmos em guerra.
Se fizermos as contas aos teus álbuns, é mais ou menos a meio da tua discografia que mudas claramente o rumo das tuas composições e da tua música. O que aconteceu que justificasse essa mudança, Antonio?
Quando gravei o segundo disco o engenheiro de som, José María Sagrista, perguntou-me porque me empenhava em fazer das minhas composições uma espécie de borrão, se eram canções boas. Disse-me que não era necessário fazê-las deliberadamente inacessíveis. Aquela ideia ficou na minha cabeça e J (Juan Rodríguez, da banda Los Planetas) acabava por dizer-me o mesmo cada vez que nos encontrávamos. Por fim o J e eu trabalhámos juntos em El fuego amigo, eliminando o tipo de arranjos absurdos que o Chinarro costumava juntar inconscientemente às canções e escrevi letras com um fio argumental menos confuso. O resultado levou-me a dedicar-me profissionalmente a isto, e a alegria de não ter que pisar mais uma fábrica fez o resto.
Por falar dos teus discos, se tivesses de escolher meia dúzia deles como os mais representativos da tua obra, quais seriam, e quais as razões dessa escolha?
Não tenho de escolher. Depois vocês escolhem.
E, já agora, o que achas do EP Five Spanish Songs, de Destroyer, apenas com canções tuas?
Podia ter sido alguma coisa mais do que uma história sem importância, mas apanhou-me na mudança de editora e não se publicitou o suficiente. Bajar é fã do Chinarro desde o início. Quis mostrá-lo a toda a gente e agradeço cada vez que me perguntam pelo assunto.
As letras das tuas canções são, muitas vezes, densas, enigmáticas, literárias, um pouco fora do universo das canções pop-rock que pouco ou nada dizem de interessante. Queres comentar esse teu lado de letrista?
Agradeço-te o comentário. Faço o que posso. Simplesmente eu penso assim, escrevo assim e canto assim. Não consigo ser outra pessoa.
Como músico, que tipo de trabalho preferes? O da composição, da gravação em estúdio, ou tocar ao vivo?
Compor, sem dúvida nenhuma. Depois, no estúdio sinto-me bem. E quando os concertos se dão em boas condições , como o do Primavera Sound há pouco tempo, também aproveito. Não gosto nada de tocar por tocar.
O teu mais recente disco (El Progreso) mereceu bastantes elogios no Altamont. Como foi recebido em Espanha, tanto pela crítica especializada como pelo público que vai aos teus concertos?
Em Espanha já me dão sempre quatro estrelas. Não há muito que pensar. Chinarro é um artista notável e blá blá blá. Eles gostavam que eu parasse durante uma temporada, acho eu. Dou-lhes demasiado trabalho para o gosto local. No que diz respeito às pessoas, continuam a tentar entender-me, embora a custo. Mas não deixam de tentar, e eu gosto disso.
Por falar em concertos, vimos-te em Madrid (Joy Eslava) e em Badajoz (Contempopránea 2016) nestes últimos meses. Para quando um disco ao vivo?
Nunca, isso é absurdo. Todos os discos são ao vivo. Ninguém com bom senso grava discos com todos os instrumentos separadamente e com claquete.
Sabemos que há muitos anos tocaste em Matosinhos. Já fazia sentido um novo regresso a Portugal. Há essa vontade? Alguma hipótese de te vermos ao vivo um dia destes?
Sim, em Matosinhos, perto do Porto. Não há nada que me apeteça mais neste momento do que ir a Portugal, com ou sem guitarra.
Muito obrigado, António. Queres deixar algumas palavras em particular para o Altamont e para os seus leitores?
Agradeço-lhes muito a atenção e o carinho que têm quando falam de Chinarro. Um forte abraço.