Visita guiada ao Magafest, pela mão da criadora, Inês Magalhães.
Ao terceiro ano, o Magafest muda de poiso mas mantém todas as características que o distinguem dos demais festivais da nossa praça. Num “speed date” com a criadora e organizadora, Inês Magalhães, ficámos a conhecer os principais destaques da edição deste ano. Ao longo das próximas semanas, publicamos aqui entrevistas com vários músicos do cartaz. Sobre os restantes, a Inês explica por que não devemos perder os seus concertos.
Comecemos pela mudança de palco. Depois de duas edições na Casa Independente, este ano o Magafest instala-se no Palácio Sinel de Cordes.
Nas primeiras edições enchemos a Casa Independente, este ano optei por aumentar um pouco o espaço, não muito, porque senão também fica descaracterizado daquilo que são as Magasessions, e ir para o Palácio Sinel de Cordes, onde é a Trienal de Arquitectura, no largo onde é a Feira da Ladra. A razão principal para a mudança de sítio foi conseguir ter mais gente mas ainda assim mantendo o festival pequeno e com a mesma intimidade, tentar que o festival seja uma experiência diferente da maioria dos festivais. Outra razão, na Casa Independente eu tenho uma estrutura já feita, este ano não, tenho de construir tudo de base o que, por um lado, dá muito mais trabalho e tenho de ter uma equipa de co-produção, mas também me dá mais liberdade criativa, em termos de utilização do espaço e das propostas que posso ter. Porque não vai haver só música, além dos concertos – que vão ser no páteo do Palácio, tem um terraço lindíssimo com buganvílias e uma árvore mais que centenária – mas como há mais espaço, temos outras propostas, como o Abysmo Speed Date, trazer também ao festival a poesia e literatura, e outras artes, a pintora Luísa Jacinto vai tomar conta de uma das salas, com obras suas, e os Tra$h Converters vão dar som ao interior do palácio. A ideia é criar uma experiência holística, com várias artes, onde as pessoas entrem e mergulhem num espaço onde tenham vários estímulos.
Falaste aí do “speed date” da Abysmo, do que se trata?
As pessoas vão poder ter um encontro, mesmo como um speed date, com vários escritores, da nova poesia e da nova literatura – António Carlos Caeiro, José Paulo Miranda, José Anjo, Gonçalo Waddington, Luís Brito. Eles estão sentados e as pessoas vão rodando, têm 5 minutos e podem falar do que quiserem, ao fim de 5 minutos toca a campainha e trocam de mesa.
Passando para o cartaz, há um nome que já é habitual no Magafest – Norberto Lobo.
Sim, em 2014 tocou com o Gabriel Ferrandini, no ano passado tocou com o Carlos Bica e agora vem com os Norman, a minha banda favorita – posso dizer sem pudor algum. Aqui, está com o João Lobo e com o Manuel Mesquita [Garcia da Selva]. O Manuel e o Norberto são irmãos, o João tem o mesmo apelido, não é irmão mas pertence à mesma alcateia. E são uma das bandas mais incríveis, paisagens electrónicas, não sei, é difícil encaixar.
O Carlos Bica também está de volta, com a banda que gravou o aclamado AZUL. Vão tocar esse álbum?
Este ano vem com o Jim Black e o Frank Möbus e é incrível tê-los no Magafest, vêm dos Estados Unidos de propósito. Todos os artistas, a pedido meu, vão levar inéditos ao Magafest, todos eles vão dar-nos algo que não está gravado, que ainda ninguém ouviu. Quem vai à espera de ouvir o álbum, isso não vai acontecer.
Que projecto é este do Tó Trips com o João Doce?
Eles lançaram há pouco o tempo um álbum, eu conheci o João Doce através deste projecto, que eu acho que também trouxe um lado do Tó que… Os músicos influenciam-se sempre uns aos outros – e muitos desses encontros que acontecem, ninguém chega a ouvir nada, não vai haver gravações e quem ouviu, ouviu. As MagaSessions tentaram colmatar um bocado isso, eu digo que os músicos às vezes estão em “namoros” e eu peço para trazerem o namoro cá para casa, senão a maior parte de nós não tem acesso. E eu acho que o Tó Trips e o João Doce é um “namoro” a que felizmente muita gente teve acesso com o lançamento do álbum deles. Mas é difícil para mim encaixar e explicar o que fazem, as pessoas que oiçam, em vez de estarem a ouvir o que é que eu acho, não quero estar a influenciar.
Fala-nos da Madalena Palmeirim.
A Madalena antes de tudo é uma amiga. Já tinha estado no primeiro Magafest mas com outro projecto, os nome comum. No ano passado lançou o seu primeiro EP, Mondays. Ela canta em português e inglês, música folk, onde ela toca vários instrumentos e eu acho que é uma das poucas bandas com uma vocalista feminina no folk em Portugal, tal como existe Minta & The Brook Trout com a Francisca Cortesão e a Mariana Ricardo. Eu acho que a Madalena Palmeirim é uma aposta, tanto a voz como a qualidade dos arranjos – ela toca com o Manuel Dordio e com o Nuno Mourão – que nos traz uma lufada… Em Portugal há poucas pessoas a cantar folk, folclore português, música tradicional portuguesa, sem alguns tiques, acho que segue tudo muito a mesma linha – e a Madalena sai dessa linha, sem trejeitos, é uma música muito dela, quando ouves reconheces imediatamente quem está a cantar, e acho que é isso que interessa mostrar, num festival como o Magafest, música que se destaque e seja diferente daquilo que eu acho que a maior parte das pessoas anda a fazer.In
E Sopa de Pedra, o que é?
São 10 mulheres, maioritariamente do Norte. Eu lembro-me de estar no Bons Sons e estava a dar uma coisa que não me interessava e saí, comecei a andar e de repente, ao pé da Igreja, comecei a ouvir uma coisa… Sabes quando aparece nos filmes de animação, um cheiro e as pessoas de repente ficam hipnotizadas e começam a seguir? Eu senti isso com as Sopa de Pedra, mas pelo ouvido. Quando as encontrei estavam as 10 em frente à Igreja, cada uma com o seu microfone, a cantar música tradicional portuguesa, com harmonias incríveis.Era impossível sair dali. Elas têm todas à roda de 30 anos, não são as “velhinhas” do Tiago Pereira, são mulheres novas que decidiram juntar-se e fazer um projecto absolutamente incrível, elas cantam músicas que já existem mas dão-lhe uma volta, é mesmo muito bonito, as harmonias, os arranjos vocais, eu nunca vi nada assim em Portugal. Quem vê, fica colado. Estão bem ensaiadas, os arranjos são muito bons. Elas conseguem fazer do velho, novo, mas que não deixa de ser velho e sempre nesse círculo de não conseguires bem definir o que é que elas estão a fazer à música, se a estão a renovar mas ao mesmo tempo não, estão a manter a tradição mas trazem uma certa contemporaneidade à música tradicional portuguesa, de uma forma muito bonita.